quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Poema


Tive tantos filhos
Nesta minha vida
De louco e monge.
Escrevi debaixo de árvores.
Escrevi muitas coisas dormindo.
Embora fossem nuvens,
Brilhavam carne e ossos.
As palavras nunca são
Uma coisa só, por isso
Que o poeta vive
Acendendo
Uma vela pra deus
E outra pro diabo.
Muitos dos meus filhos
Nasceram tortos e trôpegos.
Antes que me dessem pena
Sumi com eles no berçário.
Alguns meteram-se
Entre os meus dedos
De tal forma que acabaram
Pontinhos brancos nas unhas.
Não me canso de amá-los.
Nem me arrependo por esquecê-los.
Meus filhos
Não são bons
Nem maus.
Digamos que os meus filhos
Com a minha morte apenas tocarão
Um blues em homenagem à minha alma.
E pronto.
Seguirão depois os meus filhos
As suas vidas de pontinhos brancos
Nas unhas de outras mães e outros pais.
Tive tantos filhos
Nesta minha vida
De louco e monge.
Você nem imagina
Como dói amá-los.

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