O esposo bêbado qual um gambá,
a mulher não sabe dirigir meio tonta,
o amigo de infância sugere a sua casa.
O esposo aos abraços agradece
bêbado não cessam as lembranças
dele e do seu gentil amigo de infância.
Na confortável cama em que o morto de uísque
ronca e soluça ao mesmo tempo inicia-se
o perigoso idílio entre
o tal amigo de infância
e a mulher deslumbrante.
Uma taça de vinho, "obrigada".
Uma mão na coxa, "por favor, não".
Amanheceu um belo dia
café quente e amargo
o marido bebe.
Despedem-se e constrangidos todos prometem
um novo encontro sem exageros no uísque
(e sei eu, dos olhares trocados
dos amantes).
Desde o longo banho
o esposo traído não cala a boca
em grandiloquentes elogios ao amigo da sua terra.
A mulher, adúltera por sutil deslize,
não suporta o aperto no peito
e vocifera seu vacilo.
Entre o banheiro e a cama
(onde chorava a esposa)
havia uma pequena
cômoda.
O homem traído e em silêncio
de toalha em volta da cintura
(quase patético) da cômoda
na primeira gaveta retira
um embrulho.
Joga ao chão o plástico
da flanela desnuda-se
um revólver.
Sem ouvir a mulher aos prantos
veste o homem alguma
peça,
abre a porta
os olhos gelados.
Em alguns minutos
pega o carro na garagem
mais dez minutos chega à casa
do seu amigo de outrora o canalha.
Prático e sem fala de novela,
três tiros nesta sequência:
um na testa,
outro na boca,
o terceiro no peito.
De volta ao seu apartamento
a sua mulher logo desvenda
pelo silêncio do esposo
o triste fim daquele cara
o qual só conhecera
em uma noite
e por presente de Sátiro
transaram e transaram
sem fim.
Dizem que a morte
quando se aproxima
sente-se arrepio na espinha.
A mulher sentiu
a espinha em frêmito.
Antes de apertar o gatilho,
dessa vez ouve-se uma frase,
apenas uma frase: "eu te amei..."
Na mesma sequência:
rosto e peito esquerdo.
O corpo da esposa na cama
conseguiu ver pelo espelho
assim que encostou
o cano do revólver
na sua têmpora,
depois a massa do seu cérebro
espalhou-se por todo
o banheiro.
Não se veem muitos detalhes
com os miolos no chão.
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