é que às vezes
preciso beber
meu sangue
então não repare
nos meus lábios
rubros
é que nem sempre
sou pálido e tenro
preciso beber meu sangue
juntar meus ossos
encaixar a loucura
no vão encanto
é que por muito tempo
coçam meus dedos
salivam meus dentes
desce a baba
pelo canto
da minha boca
cortada
é que tenho
desde nascença
um corte fino
nos lábios
onde repousa
minha lucidez
asas de fogo
infância
é que a poesia
não está sob
a vigilância
do poeta
nem este
acima
do estalo
dos gravetos
dos uivos
das borboletas
da quietude
dos bisões
é que meus braços
procuram outra coisa
gente quente água-viva
abraço fecundo
fazer mais de um filho
fazer uma penca de filhotes
pela casa rosnando assobiando
festejando alegrando paredes
riscando o teto a cada salto
da cama
é que a tolice
de quem escreve
pode afugentar
um pássaro
prender o dedo
na porta
é que dói
ver o sangue gasto
(todo nos lábios)
e o piso pedinte
suplica uma gota
um pingo
nem que seja
do seu esmalte
é que a minha flauta doce
recusa nessa noite
o meu sopro
e sem blues
a vidraça embaçada
sinto dó das lágrimas
é que meus cílios
nessa noite
bela época
abanam-se
vaidosos
da solidão
No silêncio da madrugada, um poema com gosto de sangue, lembrando medos e desejos infantis.
ResponderExcluirQueres a dama ou uma gota do seu esmalte?
Risquê ou risque?
Nem um verso..
poesia é o desejo de quem a lê, efetivado no imaginar flutuante.
Abraços, né?
sorrindo...
Transporte a postagem. Eu pago a passagem
É sempre um prazer tomar entre as mãos a sua poesia, feita de alma e sangue.
ResponderExcluirUm abraço amigo.
Brandão.
Nem sempre sou pálido e tenro - sublinhado de caneta simbólica.
ResponderExcluirhttp://vemcaluisa.blogspot.com
Li os seus ultimos poemas de rajada!
ResponderExcluirDe todos este tocou-me!
solidão e sangue, podem sempre andar de mãos dadas
ResponderExcluirbeijos
Laura
notas soltas em partitura poética exemplar. a música aqui é sempre bem tocada!
ResponderExcluirum abraço, poeta-camarada!
Nossa, que lindo canto!
ResponderExcluirBeijo.