sobre o apito
da chaleira.
Sobre a timidez
e o medo de Lola.
Sobre meu espírito
e as minhas bolas.
Sobre o meu bigode
e a metafísica dos objetos.
Já escrevi poema
sobre as cicatrizes
do meu pulso esquerdo.
Sobre os passarinhos
das árvores de oiti.
Sobre a camaradagem
do meu bermudão surrado.
Já escrevi poema
sobre o meu primeiro amor
e sobre a magia negra do cinismo.
Já perdi alguns dentes.
Já perdi meus óculos.
Já escrevi poema
sobre as romãs
da clínica
e sobre a psicóloga
os cílios postiços
e seus sapatos.
Já escrevi poema
sobre a morte
do louco.
Sobre a chuva,
sol e festins.
Já escrevi poema
sobre fantasmas
da infância.
A dor, a doçura
e a fatalidade.
O apito da chaleira
é só uma súplica
da água
fervendo.
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