Há dias em que não gosto de ver cadáveres.
Como há dias em que sinto uma saudade
do meu guarda-chuva preto
com o qual eu furava os
olhos dos pombos.
Há dias em que meu coração bate solto entre as costelas
feito um rei preso à sua rainha passeando em um jardim
de uma pequena cidade holandesa.
Em dias assim em que estou cansado
de pintar os cílios dos mortos
e de ouvir meu coração
maluco por uma flor
faço então algo comum aos poetas -
escrevo versos com os olhos
pequeninos de vovó.
E vovó sabia ler em silêncio
como os mortos sabem
ficar quietos
tanto quanto os reis sabem subjugar-se às suas rainhas
e também sabem subjugar-se às tulipas roxas
de uma cidadezinha holandesa.