segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

luxo

Há dias em que não gosto de ver cadáveres.

Como há dias em que sinto uma saudade
do meu guarda-chuva preto
com o qual eu furava os
olhos dos pombos.

Há dias em que meu coração bate solto entre as costelas
feito um rei preso à sua rainha passeando em um jardim
de uma pequena cidade holandesa.

Em dias assim em que estou cansado
de pintar os cílios dos mortos
e de ouvir meu coração
maluco por uma flor

faço então algo comum aos poetas -
escrevo versos com os olhos
pequeninos de vovó.

E vovó sabia ler em silêncio
como os mortos sabem
ficar quietos

tanto quanto os reis sabem subjugar-se às suas rainhas
e também sabem subjugar-se às tulipas roxas
de uma cidadezinha holandesa.