As minhas coisas são simples.
Quase monótonas: livros
que não leio mais,
óculos embaçados
de suor e não
de lágrimas.
Sapatos velhos,
cuecas velhas.
Uma fotografia antiga de chapéu.
Outra entre as plantas da varanda.
Todas elas patéticas
esperando a fome
das traças.
As traças que comerem
as minhas fotografias
hão de gerar outras
traças tristes
e inválidas.
As minhas coisas são sem graça
beirando o infortúnio dos tolos:
papéis com números
de telefones sobre
a escrivaninha.
Mulheres esquecidas da noite.
Que me deram vinho e fugiram ao amanhecer.
Se ligar para elas o que direi?
Que morrerei vil apesar da solidão?
A solidão é para sermos santos.
Lustrarmos os sapatos e lavarmos as cuecas.