Não me lembro do nome do coveiro
Que passava pela minha calçada
Com as botas sujas de terra
E um olhar estranho.
Éramos criança (eu e minha calçada)
E esperávamos o coveiro passar
Com suas botas sujas de terra.
Os vizinhos sorriam para o coveiro
Respeitosos com aquele homem
Que enterrara seus parentes.
O coveiro já bem velhinho,
Encurvado das almas
E dos túmulos,
Respondia sempre com uma boa noite inaudível
E passava sereno com suas botas sujas de terra.
O que nós adorávamos (eu e a minha calçada)
Era o som das suas botas com hastes de flores
Ainda presas no solado. Sabia que além de coveiro
Aquele homem velhinho que enterrara meus parentes
Também cuidava do jardim do cemitério e dos jazigos.
Aquela terra que o coveiro deixava
Pela minha calçada quando criança
Alegrava-me a noite e dormia pensando
Se todos coveiros eram jardineiros e se andavam
Com aquelas botas em que presas as hastes
De flores lançavam um perfume
De terra sagrada
E um barulho
De encanto.
A minha calçada nunca me respondeu.
Ao outro dia era mais importante a chuva.
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