sábado, 12 de novembro de 2011

meus tênis e um sapato estranho

Não preciso de sapatos.
É tão natural a textura das nuvens.

Deem os meus tênis e mais aquele bico fino preto
[nunca usado] ao cidadão da esquina.

Ele precisa.
Sinto que ele anda pesado.

Os meus tênis por serem velhinhos
são algodões-doces que se desmancham
nas calçadas sobretudo nas calçadas
ainda molhadas do orvalho
de ontem.

O cidadão da esquina anda carregado de muito ouro.
Necessita com urgência da alma daquele passarinho
que um dia se abancou no ombro
de São Francisco.

O sapato bico fino preto [concluo agora]
não lhe ofereçam. Também é carregado
e só tem no solado terras por onde
não andei e não conheço
o dono dele.

Pressinto que o sapato bico fino preto
não é recomendável para quem
deseja andar nas nuvens.

O cidadão da esquina
caso calce esse sapato
pode matar alguém
por mais dinheiro
ou mais ouro.

De quem será esse sapato bico fino preto?
Chegou-me ao quarto nem lembro
como e qual motivo.

Então deem somente meus tênis.
Todos eles e digam ao cidadão da esquina
para fechar os olhos quando atravessar as praças.

Meus tênis embora velhinhos gostam
de correr atrás dos pombos.

E por falar em pombos,
eles usam nike vermelho.

Vejam, não há um pombo
que não use um tênis nike vermelho.

Um comentário:

  1. Amei esse seu poema, a liberdade expressa num tênis velho e surrado. Um abraço, Yayá.

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