Não preciso de sapatos.
É tão natural a textura das nuvens.
Deem os meus tênis e mais aquele bico fino preto
[nunca usado] ao cidadão da esquina.
Ele precisa.
Sinto que ele anda pesado.
Os meus tênis por serem velhinhos
são algodões-doces que se desmancham
nas calçadas sobretudo nas calçadas
ainda molhadas do orvalho
de ontem.
O cidadão da esquina anda carregado de muito ouro.
Necessita com urgência da alma daquele passarinho
que um dia se abancou no ombro
de São Francisco.
O sapato bico fino preto [concluo agora]
não lhe ofereçam. Também é carregado
e só tem no solado terras por onde
não andei e não conheço
o dono dele.
Pressinto que o sapato bico fino preto
não é recomendável para quem
deseja andar nas nuvens.
O cidadão da esquina
caso calce esse sapato
pode matar alguém
por mais dinheiro
ou mais ouro.
De quem será esse sapato bico fino preto?
Chegou-me ao quarto nem lembro
como e qual motivo.
Então deem somente meus tênis.
Todos eles e digam ao cidadão da esquina
para fechar os olhos quando atravessar as praças.
Meus tênis embora velhinhos gostam
de correr atrás dos pombos.
E por falar em pombos,
eles usam nike vermelho.
Vejam, não há um pombo
que não use um tênis nike vermelho.
Amei esse seu poema, a liberdade expressa num tênis velho e surrado. Um abraço, Yayá.
ResponderExcluir