Dia a dia alimentamos nossa morte.
Nós nos divertimos tanto
e aproxima-se o fim.
Uma boa morte é alimentada
desde o início da tenra idade
com guloseimas, balões coloridos,
barquinhos de papel, pipas
e bermudões surrados.
Amo a tolice humana e amo a vaidade
oculta e tão óbvia no clarão
dos nossos olhos.
Você que é tão carente
noutros momentos
vivaz e eloquente
não aceita um drink
ou um chazinho
de hortelã?
A cada prazer delicado e simples
é um preparativo para a boa morte
que se anuncia.
Você vive cego
ou é passageiro
esse andado
trôpego?
Depois de um dia de batalha
carregamos nos ombros
três ursos.
Um para o vizinho
que ainda dorme.
O segundo para
a nossa sombra
dentro das botas.
E o último é somente seu.
O mais carnívoro,
presas horríveis
e bafo de onça.
Quem já se viu -
um urso com bafo de onça.
Mas é simpática essa imagem.
Durma,
você está exausto
após um dia de doçuras.
Amanhã cedinho
acorde seus ursos.
Vire-se e pegue de volta
aquele oferecido ao vizinho.
Calce suas botas,
espante sua sombra
e traga para si o segundo.
Quanto ao último urso
[o mais louco e feroz]
deixe-o
bem guardado
na terceira gaveta da cômoda
onde estão o fósforo, a taça
e o seu conhaque.
Que poema tão íntimo, senti-me dentro da minha casa e vi um sangue escorpiniano pulsando forte aqui, eu sinto... Se o poeta não tem o sol em escorpião, tem qualquer outra infuência. No horizonte, a morte, os olhos esquecem de olhar, mas os passos caminham lentamente, às vezes esquecidos, até ela. Amei o poema, Domingos...
ResponderExcluirBeijos,
você justifica tão bem esse cansaço, poeta dos dias!
ResponderExcluirBeijinho de fã!
amar a vida e querer viver é respeitar a morte e saber morrer.
ResponderExcluirabraço, poeta amigo!
Menos drinks e mais vida. Um abraço:)Yayá.
ResponderExcluirIntenso, lindo. Viver é assim.
ResponderExcluirBjos, Domingos!
O teu poema desinquietou-me, sinto que vivemos com a morte ao nosso lado, ela deita-se na nossa cama e os dias coloridos há muito que foram!!!
ResponderExcluirBeijo, querido Poeta
LauraAlberto
a morte é úm acto solitário, mas também a vida o é
ResponderExcluirabraço
LauraAlberto
Valeu poeta, eis mesmo singular...
ResponderExcluirAbraço fraterno! do mano Deoclécio Tadeu