domingo, 16 de fevereiro de 2020

Livreto


                                     



Cabeça
De
Grilo



                                             
                                                                                      











O passado não tem sal,
Mas a vontade da poesia
É um sal poderoso.























Para os poetas
Que têm muita luz
E pouco juízo.











Primeiro Capítulo
(deserto)



31/01/2020

A onda de energia superior
Não me faz um ser bacana
Além do bem e do mal.

A minha mente pervertida
É cada vez mais brilhante
E o meu coração dissimulado
Prepara magia do próprio sangue.

A onda de energia superior me ensina
Abrir os olhos e deixar que o fogo da verdade
Queime os pensamentos inúteis
De morbidez e de grandeza.

Deus não nos ouve como pensamos
E a nossa loucura é latente
Em nossa língua.

Não te basta o canto do pássaro
Ou tens que vê-lo cantar?




30/01/2020

Sei que existe o peso
Entre a existência desprezível
E a verdade gloriosa.

Mas como há regiões misteriosas na mente
Regiões recônditas há no coração.

E aquele que se entrega
Jamais será abandonado.

Os dias não consumirão as noites
Nem as noites absorverão os dias.

O que imaginávamos da consciência
Apaga-se

Sob um olhar
Que não é o nosso.



30/01/2020

Quando eu era menino
Escrevia versos de menino.

Agora que sou homem
Escrevo versos de homem
E não ouço vozes
De menino.

Muito embora
Um e outro
Tenham morrido
Da mesma semente.

O solo
Que os fecundou
Não é um céu distante.



30/01/2020

Todos os dias
Tenho por obrigação
Cavar minha própria cova

(um buraco profundo,
profundo, profundo)

E enterrar a minha vaidade
Para que os vermes da terra
Saboreiem as minhas impurezas.

É minha obrigação
Engordar os vermes da terra
E deixar minha alma um esqueleto.

Não te assustes
Da tua coragem -

A tua luz é sombra
Dos dias de sol.


30/01/2020

Embora ao poeta baste
Os versos que escreve
Não consegue
Calar-se.

E diz aos poderosos da terra
Que tal poder é patético
Visto por outra
Esfera.

Embora ao poeta baste
Os versos que escreve
Não consegue
Calar-se.

E diz aos que amam
Os próprios males
Que se acalmem:

Um dia conhecerão
O rosto da morte.

Embora ao poeta baste
Os versos que escreve
Não consegue
Calar-se.

E diz aos seus botões
Que louco distante do deserto
Também vive perdido.



30/01/2020

Não há portas
Para serem abertas
Nem há portas
Para serem fechadas.

Aproveite as delícias do caminho
E faça festas e bons banquetes.

O seu destino
É igual aos seus pensamentos:

Inacreditáveis,
Suspeitos,
Irreais.

Saiba lidar
Com o novo sangue
E a nova carne.

O único sentido da fé
É ultrapassar dimensões.



29/01/2020

A primeira luz que se vê
É a consciência aberta
Aceitando nossas fraquezas.

E por nossas fraquezas
A consciência aumenta.

Aquele que mergulha ao abismo
Rejeita qualquer tipo de embriaguez.

A luz é nítida
Porque é lúcida.

Não existem vermes
Dormindo dentro dos olhos.



29/01/2020

A minha mente pervertida
E o meu coração dissimulado
Vivem cúmplices dos seus fracassos.

Mas qual valor
De uma mente pervertida
Se atravessou-lhe ao corpo
O fogo da verdade?

E o que direi
Do coração dissimulado

Se hoje em dia
Ouvem-se ecos
Da sua eternidade?


29/01/2020

Se você quiser chegar à outra margem
Terá que molhar os pés
E seria tão bom

Se os seus pés estivessem cheios de ferimentos
Para que os peixes limpassem sua dor.

Lá no alto
Existe uma ponte

Mas se você quiser
Poderá chegar à outra margem
Atravessando o rio e seria tão bom

Se os seus pés estivessem cheios de ferimentos
Para que os peixes curassem sua alma
ouvindo um blues.



29/01/2020

Fosse Deus
Ouvir tuas orações
Morreria de vergonha.

Mesmo quando o coração é bom há tanta vaidade
E se existe pureza nos teus pensamentos
Deus até desconfia da tua face humana.

Fosse Deus
Ouvir tuas orações
Morreria de tristeza.

Onde se meteu a tua volúpia espiritual?
E a louca alegria e a fúria por amor?

Mas se fosse Deus
Ouvir tuas orações
Morreria de profundo
Tédio e fugiria da tua malícia.
Mas Deus ama teu cinismo e tua perdição.




29/01/2020

Durante o banquete
Chega a ser ridículo
Perguntar de que rio

São os peixes e de que pastos
São as carnes e de que terras
São os vinhos.

O anfitrião se aborrece
E detesta conversa tola
Na hora do banquete.

Serás um conviva indelicado
Se não ouvires o anfitrião que te diz:
Cala-te e come.



28/01/2020

Caso teu espírito
Não esteja atento

Teu coração será iludido
Facilmente pelas fantasias
Da tua estranha cabeça.

Triste do coração
Guiado por nuvens de cavalos

Até o desfiladeiro
Da morte.

Não sobrará um osso
Para contar história
E nenhum fio de cabelo
Dará testemunho
Do que poderia
Ter sido e tocado
E não passou
De fantasia.


27/01/2020

Por mais tresloucado
Que seja teu pensamento
E impuro o desejo
De teu coração -

O fogo da verdade
Faz cinzas.

E quem encontrou as próprias cinzas
Permanece como no princípio -
 Atônito.

O grande êxtase
É o poder da mudança.



27/01/2020

A poesia impede
Que os passarinhos
De fim de tarde
Enlouqueçam meus ouvidos.

Em vez disso
É o poeta quem canta
Para os passarinhos
De fim de tarde.

Da ponta do telhado
Fogem da minha cabeça.

Sou úmido
de fogo.









Nenhum comentário:

Postar um comentário