domingo, 8 de novembro de 2015

Platônico

De tantos amores à distância, em companhia de filósofos, dentro de cavernas a comer pão sírio e beber vinho de alto teor alcoólico, aprendi algumas palavras devastadoras à alma feminina. De todas que ouvi da boca de hedonistas, a mais infeliz é "adúltera." A mulher não suporta ser chamada de adúltera. Morre. Enlouquece. Adúltera, aos seus ouvidos, é como cravar um punhal de ponta envenenada em seu coração. Até suporta a mulher ser reconhecida como vadia e cachorra - algumas, por sinal, cantam felizes em bailes funk, na cozinha ou na cama. Adúltera não, por misericórdia. Adúltera lembra aquela passagem bíblica em que um messias desencoraja e envergonha um bando de homens brutos e tolos - já munidos de pedras nas mãos ansiosos a apedrejar uma mulher. Adúltera é além da traição. Adúltera é seduzir a própria serpente e fazê-la experimentar da própria maçã. Adúltera é o reconhecimento de toda a força carnal e religiosa de que uma mulher dispõe ao seu deleite e tragédia. O homem adúltero é um canalha. Apenas um canalha. Nunca atingirá a elevação espiritual da mulher. Um canalha é um canalha. Enquanto a mulher adúltera, quase sempre, é uma alma superior e bela. Amo as mulheres adúlteras. E lavo os seus pés e beijo o seu ventre e faço-lhes um penteado novo.

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