quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Coroinha

Catei as mais deslumbrantes pedrinhas nas margens do rio da minha cidade. Lavei e sequei as lindas  pedrinhas. Pintei as pedrinhas encantadas de vermelho, azul, amarelo e verde, à tinta guache. Juntei e colei as coloridas pedrinhas esculpindo um palhaço. Guardei o palhacinho dentro de uma caixa de sapatos  forrada a gramíneas e pétalas e ofereci [com todo o amor de um mancebo de treze anos] à minha professora de inglês que esboçou um sorriso e brincou cruel "Cadê as espinhas do palhaço? faltam as suas espinhas no palhaço..." Chorei. Arranquei das mãos da professora Hélia a delicada escultura e fugi ao casarão dos meus avós. Abraçado à caixa de sapatos [forrada a gramíneas e pétalas] chorava lágrimas de ódio. Calei-me. Despertei da manjedoura o palhacinho e lancei-o contra o muro do quintal dos meus avós - que era o mesmo do cemitério. "Palhaço, palhaço, palhaço..." Repetia centenas de vezes e ouvia de volta o palhaço repetir "Palhaço, palhaço, palhaço..."

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