domingo, 25 de outubro de 2015

Teu nome

O meu primeiro amor era leonina. Cabelos castanhos e olhos de mel. 17 anos de sedução e malandragem. Risinho no canto dos lábios e bochechas rosadas. A partir do nosso providencial encontro, acreditei em milagres. E como não poderia ser diferente, a nossa energia amorosa causou tanta inveja, ciúme, ódio. O seu perfume Eau de L'arc, ainda hoje, circula pelos vasos sanguíneos da minha alma. E todas as cartas tive de queimar ou enlouqueceria para sempre. Vivíamos grudados no batente da igreja, nos bancos da praça da Sé, nas almofadas e sofá da casa de minha tia. E os nossos inimigos faziam trincheiras nas calçadas e nos bosques. Forjavam flechas com pontas de veneno de rã. Escreviam e espalhavam missivas anônimas. Invocavam as forças demoníacas para nos separar. Perdi muito tempo com sonhos de eternidade. Na hora em que tinha de ser, a minha mestiça ofereceu-me as chaves dos seus segredos. Perdi muito tempo com palavras e sensações de perda. Escaparam as chaves dos meus olhos e caíram no bueiro onde um rato enorme [há muito de olho na minha pequena] roubou a minha felicidade. Enlouqueci para sempre. E o meu primeiro amor perdeu um seio. 

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