segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Psicografado

Meu fraco é sorrir. Daí, a alcunha "Risadinha". Gente que tem compulsão por bebida. Outros por sexo. Minha fraqueza é o riso frouxo. Certa vez, na missa de corpo presente do finado Joca, meu primo "grande Joca", uma abelha pousou no seu nariz. Entrou pela narina. Saiu. Chegou aos lábios. Forçou entrada no canto da boca. Jovita, sua esposa, enlouquecida  de tanta aflição, esbofeteou o rosto do defunto Joca. Caí na gargalhada e não existia alma viva, ou morta, que interrompesse a hilária febre do meu vício. A família, então, sob assembleia de notáveis, chegou ao seguinte veredicto: expulsão da minha pessoa a pontapés. Deolindo, mais três vaqueiros do Exu, solícitos e felizes, resolveram a pendenga. E me expulsaram com requinte de crueldade. Não me avexo com hematomas e fraturas, se sou agraciado com o riso frouxo. O meu bálsamo. O meu ópio de Charles Dickens. Nunca mais fui convidado a batizados, casamentos e atos fúnebres. Tornei-me um pária na minha cidade. Minha mãe deserdou-me. Meu vô baniu-me. Exu ficou mais triste. Conheci um monge andarilho. Segui seus passos. Alcancei a Iluminação. Hoje, vivo nas montanhas da Patagônia, rindo à toa pras lhamas de lá. Tranquilo. Sem ser apontado na rua como um louco e canalha.

Nenhum comentário:

Postar um comentário