sábado, 24 de outubro de 2015

Pai & filho

Comprei mil batatinhas, amendoins e um garrafão de três litros de guaraná. Eu não, meu filho. Grana dele. Não comprei nem uma latinha. A minha lucidez é necessária em sua presença. O rapaz argumenta situações delicadas e complexas sobre as quais ou estou lúcido ou perco a delícia do papo cabeça. Meu filho tem quatorze anos e ama a tecnologia do militarismo de ponta. Não gosta de poesia. Mas inclina-se, agora, a ler os meus escritos. Uma vez que lhe confessei que não escrevo mais versinhos de moça tísica. A poesia é pura, esclareço-lhe. O poeta é um errante. E precisa o poeta ter coragem. Não tive. E entupo-me de batatinhas e amendoins. O rapaz gargalha e pergunta qual dos últimos escritos que gostei. "A maçã" E completo: "Trata-se do desejo de uma mulher pela imortalidade da sua bunda." O carinha espanta-se. Fita-me em silêncio. Creio que talvez o rapaz leia. Melhor que leia "A maçã" primeiro, depois poderá ler o Corvo.

2 comentários:

  1. Haha... Não pude deixar de rir com a explicação ao filho...
    Lindos escritos, de uma beleza leve e ácida ao mesmo tempo ;-)

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