domingo, 25 de outubro de 2015

Banquete

Meus amores, joguem nas minhas mãos todos os tipos de louças e lavarei cada textura de prato e panela e feitios diversos de xícaras e talheres com o mesmo zelo e contemplação. Amo lavar os trens, sobretudo do almoço, e odeio engomar. As minhas camisas e calças do trabalho, os jeans e os bermudões, entrego para uma portuguesa fazer o serviço infernal. Da minha avó imagino o martírio das inúmeras e infindáveis peças de linho do meu avô. Nunca vi, na minha infância, minha vó franzir o cenho, morder os lábios, balbuciar azedumes ao engomar as vestes do seu amado. Se a portuguesa, a quem ofereço as dobras dos meus panos, não fosse comprometida e mãe de quatro filhos, até poderia considerá-la um belo partido. Casaria. Claro, uma única condição, se a matrona admitisse extrair aquele sinal acima do lábio. Um sinal exótico de pelos ruivos. Ou não, bem. Vai que sou apaixonado justamente pelo sinal da portuguesa. Um sinal de pelos ruivos tem o seu charme. Quase um convite lúbrico.

Nenhum comentário:

Postar um comentário