Sinal que estou bem e quase feliz
Quando eu penso no último poema.
Se não der tempo de vocês lerem
Terei escrito no coração.
Mas isso já faço,
Ora bolas.
terça-feira, 30 de junho de 2015
Meia dúzia de gatos pingados
Subiu ao telhado levando
Uma garrafa de uísque
E um violão.
Não é que tocam
Um blues incrível
Com levada de soul.
Não, baby,
Não tenho mais discos
E os livros vendi pra comprar
Os sonhos da década de oitenta.
A meia dúzia de gatos pingados
Bebeu todas e se unharam
Loucos por uma gata.
Sabemos que uma gata
Entre gatos bêbados
Tocadores de blues
Dá em morte.
Subiu ao telhado levando
Uma garrafa de uísque
E um violão.
Não é que tocam
Um blues incrível
Com levada de soul.
Não, baby,
Não tenho mais discos
E os livros vendi pra comprar
Os sonhos da década de oitenta.
A meia dúzia de gatos pingados
Bebeu todas e se unharam
Loucos por uma gata.
Sabemos que uma gata
Entre gatos bêbados
Tocadores de blues
Dá em morte.
Não tenho a menor dúvida.
Nenhuma nuvenzinha de interrogação
Em volta e pairando sobre minha cabeça.
Se você aceitasse minha companhia
Seríamos dois golfinhos mágicos
Em alto mar.
Não faço barulho à mesa
Em cafés de contemplação.
Não reclamo das coisas femininas
Espalhadas pela casa nem jogo
As minhas pelas cadeiras.
Abraço forte, com paixão mesmo
Quem amo, sobretudo em noites frias.
Só tenho um defeito,
Por sinal, terrível.
Quando acordo
Troco de chinelos
Com minha amada
E esqueço os meus.
Nenhuma nuvenzinha de interrogação
Em volta e pairando sobre minha cabeça.
Se você aceitasse minha companhia
Seríamos dois golfinhos mágicos
Em alto mar.
Não faço barulho à mesa
Em cafés de contemplação.
Não reclamo das coisas femininas
Espalhadas pela casa nem jogo
As minhas pelas cadeiras.
Abraço forte, com paixão mesmo
Quem amo, sobretudo em noites frias.
Só tenho um defeito,
Por sinal, terrível.
Quando acordo
Troco de chinelos
Com minha amada
E esqueço os meus.
Meus filhos, não forcem a barra,
Não supliquem exclusividade.
Se forem especiais,
Garanto-lhes que um
Não largará do pé do outro.
E lançarão pétalas
Por onde caminharem.
E cingirão as cabeças
Com flores de cerejeira.
O princípio básico do encantamento
É a delicada liberdade dos corações.
Vão por mim,
Meus adolescentes
E anciãos tão tolinhos.
Não supliquem exclusividade.
Se forem especiais,
Garanto-lhes que um
Não largará do pé do outro.
E lançarão pétalas
Por onde caminharem.
E cingirão as cabeças
Com flores de cerejeira.
O princípio básico do encantamento
É a delicada liberdade dos corações.
Vão por mim,
Meus adolescentes
E anciãos tão tolinhos.
segunda-feira, 29 de junho de 2015
Fomos roubar frutas
E antes que subíssemos
Até aos apetitosos sonhos
Um cão enorme apostou corrida
Com o vento e babava riscando
A grama ao nosso encontro.
Éramos moleques fortes e lépidos.
O muro devia ter uns três metros.
Pulamos, aliás,
Voamos alto.
Sentados na calçada do cemitério,
Ainda sob espasmos e maravilhados,
Conversávamos, ou melhor, atropelávamos
Extasiados em palavras e gargalhadas e berros.
Só depois soube
Que o nome daquele troço
Que queimara o meu coração
E me fez voar através do muro da paróquia
Chamava-se adrenalina. Adrenalina. Um lindo nome.
E antes que subíssemos
Até aos apetitosos sonhos
Um cão enorme apostou corrida
Com o vento e babava riscando
A grama ao nosso encontro.
Éramos moleques fortes e lépidos.
O muro devia ter uns três metros.
Pulamos, aliás,
Voamos alto.
Sentados na calçada do cemitério,
Ainda sob espasmos e maravilhados,
Conversávamos, ou melhor, atropelávamos
Extasiados em palavras e gargalhadas e berros.
Só depois soube
Que o nome daquele troço
Que queimara o meu coração
E me fez voar através do muro da paróquia
Chamava-se adrenalina. Adrenalina. Um lindo nome.
I
Existem poemas que retornam pra casa
Confiando nas árvores e passarinhos
O caminho de volta.
Esses poemas pródigos
Trazem da floresta encantada
Gravetos fabulosos que jogados
Ao fogo sobem fagulhas de amor.
Dá pra ver de longe, de muito longe,
O brilho da aurora boreal pela chaminé.
II
Segunda-feira não é dia
Pra escrever um poema
Meloso de amor e fábula.
Disse-me a formiga
Do alto da colherinha.
E não pensou duas vezes
Em morrer dentro do café.
Existem poemas que retornam pra casa
Confiando nas árvores e passarinhos
O caminho de volta.
Esses poemas pródigos
Trazem da floresta encantada
Gravetos fabulosos que jogados
Ao fogo sobem fagulhas de amor.
Dá pra ver de longe, de muito longe,
O brilho da aurora boreal pela chaminé.
II
Segunda-feira não é dia
Pra escrever um poema
Meloso de amor e fábula.
Disse-me a formiga
Do alto da colherinha.
E não pensou duas vezes
Em morrer dentro do café.
domingo, 28 de junho de 2015
Acabei de assinar uma papelada.
A partir de agora, meus ossos,
Minha carne e coração
Serão partes das oitis
Da minha calçada.
Há um bom tempo
Que essas doces árvores
Seduzem-me com algumas cláusulas.
"Se o poeta em questão
Desejar sentir o batimento
Cardíaco das andorinhas
Ao crepúsculo poderá
Fazê-lo sem objeção
Das mesmas."
Não podia recusar
Um acordo em que
A minha alma será
Alma das minhas oitis.
E sentirei o que os seus galhos
Vibram quando as andorinhas
Reúnem-se ao entardecer.
A partir de agora, meus ossos,
Minha carne e coração
Serão partes das oitis
Da minha calçada.
Há um bom tempo
Que essas doces árvores
Seduzem-me com algumas cláusulas.
"Se o poeta em questão
Desejar sentir o batimento
Cardíaco das andorinhas
Ao crepúsculo poderá
Fazê-lo sem objeção
Das mesmas."
Não podia recusar
Um acordo em que
A minha alma será
Alma das minhas oitis.
E sentirei o que os seus galhos
Vibram quando as andorinhas
Reúnem-se ao entardecer.
A verdade, meu terrorista,
Os inimigos que cultuas
Vivem do ódio entre
Ti e tu mesmo.
A tua mente é uma alma bélica
Um cadáver insone que vive
A te arrastar à forca.
E tu sonhas
Debaixo do alçapão
Setenta e sete virgens e mel.
Não apertes a minha mão
Nem beijes o meu rosto.
Os meus passarinhos
Detestam a tua voz.
Os inimigos que cultuas
Vivem do ódio entre
Ti e tu mesmo.
A tua mente é uma alma bélica
Um cadáver insone que vive
A te arrastar à forca.
E tu sonhas
Debaixo do alçapão
Setenta e sete virgens e mel.
Não apertes a minha mão
Nem beijes o meu rosto.
Os meus passarinhos
Detestam a tua voz.
Ainda não te falei da minha primeira xícara.
Bebia café como se conversasse em outro reino
Segurando sua asinha de porcelana. Um dia alguém
Bebeu nela, deixou-a cair e a minha primeira xícara espatifou-se.
Passei três dias sob depressão.
Sequer podia olhar pra cafeteira.
Até que me presentearam outra.
A que bebo agora café é branca.
A cor da tua alma
Que enfeitiça a minha.
Bebia café como se conversasse em outro reino
Segurando sua asinha de porcelana. Um dia alguém
Bebeu nela, deixou-a cair e a minha primeira xícara espatifou-se.
Passei três dias sob depressão.
Sequer podia olhar pra cafeteira.
Até que me presentearam outra.
A que bebo agora café é branca.
A cor da tua alma
Que enfeitiça a minha.
sábado, 27 de junho de 2015
Trouxeram-me rosas.
O jarro de vidro voltou
A existir com água e rosas.
O bonsai agora
Adivinho que o bonsai está
Sobre a outra mesinha da sala.
Trouxeram-me rosas.
E eu ainda não lhes troquei
A água. Não lembrarei o tempo
Em que caminhava até a área de serviço
Cheirando as pétalas e sonhando alto com outra mulher.
Sei que os meus ossos
Secarão sozinhos e as minhas mãos
Não terão outra xícara para encher de café.
Mas trouxeram-me rosas.
E o que mais desejo
Antes de morrer?
"Morrer" caiu-me
Como fim de poema.
Não da nossa história.
O jarro de vidro voltou
A existir com água e rosas.
O bonsai agora
Adivinho que o bonsai está
Sobre a outra mesinha da sala.
Trouxeram-me rosas.
E eu ainda não lhes troquei
A água. Não lembrarei o tempo
Em que caminhava até a área de serviço
Cheirando as pétalas e sonhando alto com outra mulher.
Sei que os meus ossos
Secarão sozinhos e as minhas mãos
Não terão outra xícara para encher de café.
Mas trouxeram-me rosas.
E o que mais desejo
Antes de morrer?
"Morrer" caiu-me
Como fim de poema.
Não da nossa história.
Desde muito cedo, fui um corruptor de criaturinhas dos céus.
Lembro-me claramente quando a professora pedia que escrevesse
Uma redação corria pra janela da classe, assobiava e logo chegava
Aos galhos das árvores do pátio uma turminha malandra de passarinhos.
Ordenava-lhes (com o olhar firme de uma criança corruptora
De criaturinhas dos céus) que escrevessem a tal redação.
Os meus cúmplices (ora andorinhas, ora pintassilgos)
Desembrulhavam dos bicos um papel de embrulhar pães
Com letras, ou melhor, garranchos em que me custava ler.
Mas conseguia traduzir.
E sempre tirava dez.
Como era fácil escrever uma boa redação
Com ajuda das criaturinhas dos céus.
Lembro-me claramente quando a professora pedia que escrevesse
Uma redação corria pra janela da classe, assobiava e logo chegava
Aos galhos das árvores do pátio uma turminha malandra de passarinhos.
Ordenava-lhes (com o olhar firme de uma criança corruptora
De criaturinhas dos céus) que escrevessem a tal redação.
Os meus cúmplices (ora andorinhas, ora pintassilgos)
Desembrulhavam dos bicos um papel de embrulhar pães
Com letras, ou melhor, garranchos em que me custava ler.
Mas conseguia traduzir.
E sempre tirava dez.
Como era fácil escrever uma boa redação
Com ajuda das criaturinhas dos céus.
sexta-feira, 26 de junho de 2015
Tenho dezenas de palavras xodós
Que me acompanham um tempão.
Antes de escrevê-las,
Pulam dos meus olhos
E me fazem um poeta
Menos doido traumático.
Essas palavras xodós
Trazem em sua morfologia
Algum encanto de sílabas mágicas.
Ainda que o poema
Pareça-me melancólico,
Atroz, sombrio, de fígado ruim,
As minhas palavras xodós aliviam
O vácuo do pacote de café já aberto.
Como se fossem mãe de 78 anos
Que abraça o filho após uma guerra.
Que me acompanham um tempão.
Antes de escrevê-las,
Pulam dos meus olhos
E me fazem um poeta
Menos doido traumático.
Essas palavras xodós
Trazem em sua morfologia
Algum encanto de sílabas mágicas.
Ainda que o poema
Pareça-me melancólico,
Atroz, sombrio, de fígado ruim,
As minhas palavras xodós aliviam
O vácuo do pacote de café já aberto.
Como se fossem mãe de 78 anos
Que abraça o filho após uma guerra.
Que história é essa de parar o tempo.
Não teria graça a eternidade do contentamento.
Você suportaria saber que a sua morte é tal dia?
Houve um tempo
Em que eu amava
Heráclito de Éfeso.
E no meu jardim de infância
Já tinha calculado minha cova.
Então chegou uma formiga
Comeu uma folha e sumiu.
Não faz sentido o meu coração
Nessas horas em que não me pertenço.
O meu único amigo é quem me fala aos ouvidos.
Não escrevo à toa
Tudo que ouço.
Nada dessa conversa
De parar o tempo,
Por favor.
Não teria graça a eternidade do contentamento.
Você suportaria saber que a sua morte é tal dia?
Houve um tempo
Em que eu amava
Heráclito de Éfeso.
E no meu jardim de infância
Já tinha calculado minha cova.
Então chegou uma formiga
Comeu uma folha e sumiu.
Não faz sentido o meu coração
Nessas horas em que não me pertenço.
O meu único amigo é quem me fala aos ouvidos.
Não escrevo à toa
Tudo que ouço.
Nada dessa conversa
De parar o tempo,
Por favor.
quinta-feira, 25 de junho de 2015
Se consertassem a minha cabeça
(Um choque, um chip novo, outro
Sopro de vida) em que subterrâneos
A minha mórbida alma se esconderia?
Pois a outra chegaria
Lépida e contagiante.
Mas aí, não seriam minhas
As mãos lisas e a barbicha
De quem escreve estes versos.
Ou tolice esse papo de almas,
Se é o poeta que maneja
As espadas.
E todo o seu corpo
Não traz outras cicatrizes
Senão aquelas que desconhece.
(Um choque, um chip novo, outro
Sopro de vida) em que subterrâneos
A minha mórbida alma se esconderia?
Pois a outra chegaria
Lépida e contagiante.
Mas aí, não seriam minhas
As mãos lisas e a barbicha
De quem escreve estes versos.
Ou tolice esse papo de almas,
Se é o poeta que maneja
As espadas.
E todo o seu corpo
Não traz outras cicatrizes
Senão aquelas que desconhece.
Você se lembra daquele cheiro
De calçadas molhadas e insetos
Quando chovia lentamente por horas?
E depois saíamos com os olhos brilhando
De alguma coisa a navegar dentro de nós?
Você se lembra daquele meu relógio
Que eu escondia pra não ver água?
Roscofe, sim,
Um relógio roscofe.
Onde você se meteu?
Não sinto mais o cheiro
Das calçadas molhadas
Nem dos insetos cambaleantes.
De calçadas molhadas e insetos
Quando chovia lentamente por horas?
E depois saíamos com os olhos brilhando
De alguma coisa a navegar dentro de nós?
Você se lembra daquele meu relógio
Que eu escondia pra não ver água?
Roscofe, sim,
Um relógio roscofe.
Onde você se meteu?
Não sinto mais o cheiro
Das calçadas molhadas
Nem dos insetos cambaleantes.
Por três meses, cuidei de um cãozinho.
Seu nome era Mike, um pastor capa preta.
Não conseguíamos dormir. Passava toda a madrugada
Brincando e eu cuidando das suas sujeiras entre
Os fios do computador.
Ao meu filho que tinha cinco anos
Sugeri que dividisse comigo as tarefas.
O meu pequeno sorriu "pai, o senhor limpa
A sujeira do Mike e eu brinco com nosso amiguinho."
Muito triste o fim da história.
E hoje estou um tanto melancólico
Pra final foda de lágrimas e orfandade.
Mas adianto, Mike
Não viveu muito.
Seu nome era Mike, um pastor capa preta.
Não conseguíamos dormir. Passava toda a madrugada
Brincando e eu cuidando das suas sujeiras entre
Os fios do computador.
Ao meu filho que tinha cinco anos
Sugeri que dividisse comigo as tarefas.
O meu pequeno sorriu "pai, o senhor limpa
A sujeira do Mike e eu brinco com nosso amiguinho."
Muito triste o fim da história.
E hoje estou um tanto melancólico
Pra final foda de lágrimas e orfandade.
Mas adianto, Mike
Não viveu muito.
Sarei daquela alergia
Abaixo do ombro esquerdo.
Vivia convencido de que era
Marca da sua mordida e compartilhava
Dessa obsessão com as visitas no hospício.
Mas nós sabíamos quando você me entregava
O doce de leite, o maço de cigarros e as três peças
De roupas limpas que aquela erupção cutânea no peito
Não passava de um estigma banal e dilacerante da saudade.
Abaixo do ombro esquerdo.
Vivia convencido de que era
Marca da sua mordida e compartilhava
Dessa obsessão com as visitas no hospício.
Mas nós sabíamos quando você me entregava
O doce de leite, o maço de cigarros e as três peças
De roupas limpas que aquela erupção cutânea no peito
Não passava de um estigma banal e dilacerante da saudade.
Essa chuvinha fina que cai agora
É um presente que arranjei pra você.
Nem foi preciso arrancar cílios,
Chorar, desesperar-se, bater
Com violência os punhos
Contra a mesa redonda
De vidro.
O meu coração urrou
Igual a um bisão velho
No alto da colina de neve.
Até as minhas andorinhas resolveram
Tocar violinos com os gravetos de oitis.
É um presente que arranjei pra você.
Nem foi preciso arrancar cílios,
Chorar, desesperar-se, bater
Com violência os punhos
Contra a mesa redonda
De vidro.
O meu coração urrou
Igual a um bisão velho
No alto da colina de neve.
Até as minhas andorinhas resolveram
Tocar violinos com os gravetos de oitis.
quarta-feira, 24 de junho de 2015
terça-feira, 23 de junho de 2015
Os primeiros poetas não sabiam que nome dar àquela escrita
Suja de âmbar que escreviam em suas costelas com pontas
De pedras. Gostavam mais do som das pedras
Contra as costelas.
Muitos dormiam e sonhavam com palavras
Ouvindo o som das pedras pontudas
Contra as suas costelas.
Os primeiros poetas não escreviam para eles
Nem para o tão próximo ou tão distante.
Escreviam por que havia a luz do fogo
Que iluminava seus corpos em cavernas úmidas.
Os primeiros poetas não escreviam
À luz das estrelas.
Os primeiros poetas nunca foram bons caçadores.
Nem eram dotados de perspicácia e delírios
Para alcançar os céus.
Os primeiros poetas escreviam com pedras pontudas
Contra suas costelas e talvez fosse âmbar aquela resina.
Sei que morreram no inverno.
Cobertos de neves.
Muitos tinham nas mãos e rostos
Mordidas de cães selvagens
E outros bichos.
Mas por seus corpos estarem cobertos de neves
Parecia-lhes uma morte tranquila. Alguns
Não morreram e chegaram a conhecer
Mais dos céus do que da alma.
E a alma aos primeiros poetas
Era só o corpo, o corpo e as costelas
Feridas pelas pedras pontudas de âmbar.
Suja de âmbar que escreviam em suas costelas com pontas
De pedras. Gostavam mais do som das pedras
Contra as costelas.
Muitos dormiam e sonhavam com palavras
Ouvindo o som das pedras pontudas
Contra as suas costelas.
Os primeiros poetas não escreviam para eles
Nem para o tão próximo ou tão distante.
Escreviam por que havia a luz do fogo
Que iluminava seus corpos em cavernas úmidas.
Os primeiros poetas não escreviam
À luz das estrelas.
Os primeiros poetas nunca foram bons caçadores.
Nem eram dotados de perspicácia e delírios
Para alcançar os céus.
Os primeiros poetas escreviam com pedras pontudas
Contra suas costelas e talvez fosse âmbar aquela resina.
Sei que morreram no inverno.
Cobertos de neves.
Muitos tinham nas mãos e rostos
Mordidas de cães selvagens
E outros bichos.
Mas por seus corpos estarem cobertos de neves
Parecia-lhes uma morte tranquila. Alguns
Não morreram e chegaram a conhecer
Mais dos céus do que da alma.
E a alma aos primeiros poetas
Era só o corpo, o corpo e as costelas
Feridas pelas pedras pontudas de âmbar.
terça-feira, 16 de junho de 2015
A minha avó entrou em amnésia profunda
Quando perdeu o seu grande amor.
Passava dias catatônica
Com o olhar perdido,
Distante,
Atravessando
O corredor
Escuro.
Ao despertar,
Caminhava pela casa
E pelo quintal enlouquecida
Invocando dos campos de batalha
E dos salões de baralho o seu amado.
Muitas vezes, exausta
Fechava-se em seu quarto,
Orava ladainhas e fazia as malas.
Conseguia sempre alcançá-la
Na esquina do cemitério.
Segurava-lhe o braço,
Beijava-lhe a cabeça.
Entre irritada e lúgubre
A minha avó chorava
E sorria:
"Meu netinho, onde diacho
Meteu-se o meu velho?"
Quando perdeu o seu grande amor.
Passava dias catatônica
Com o olhar perdido,
Distante,
Atravessando
O corredor
Escuro.
Ao despertar,
Caminhava pela casa
E pelo quintal enlouquecida
Invocando dos campos de batalha
E dos salões de baralho o seu amado.
Muitas vezes, exausta
Fechava-se em seu quarto,
Orava ladainhas e fazia as malas.
Conseguia sempre alcançá-la
Na esquina do cemitério.
Segurava-lhe o braço,
Beijava-lhe a cabeça.
Entre irritada e lúgubre
A minha avó chorava
E sorria:
"Meu netinho, onde diacho
Meteu-se o meu velho?"
segunda-feira, 15 de junho de 2015
Por compaixão a todos os deuses, não.
Nem ouses, poeta, de novo tal loucura.
Foge, rapaz, dos teus delirantes sonhos.
Conheço um barzinho
Entre os arrebóis
Noturnos.
Beberás até amanhecer
E hás de tirar do teu coração
Esse suspiro com ares de inocência.
Sabemos da fragilidade
De tuas costelas.
Conheço uma capela com uma imagem linda
De uma santa forte dos teus antepassados.
Rezarás até amanhecer
E hás de romper do teu coração
Esse olhar bambo, trêmulo, tímido.
Nem ouses, poeta, de novo tal loucura.
Foge, rapaz, dos teus delirantes sonhos.
Conheço um barzinho
Entre os arrebóis
Noturnos.
Beberás até amanhecer
E hás de tirar do teu coração
Esse suspiro com ares de inocência.
Sabemos da fragilidade
De tuas costelas.
Conheço uma capela com uma imagem linda
De uma santa forte dos teus antepassados.
Rezarás até amanhecer
E hás de romper do teu coração
Esse olhar bambo, trêmulo, tímido.
domingo, 14 de junho de 2015
Em uma manhã de domingo
Sob chuvinha fina, meu filho
Largadão na cama com os pés
Batendo na parede, os passarinhos
Com seus guarda-chuvas das folhas
De oiti dando pulinhos e reclamando da vida
Impossível, impossível não ser o eleito de meu deus.
Mesmo assim, não perco minha rebeldia
E jogo pela janela carocinhos de laranja.
Sob chuvinha fina, meu filho
Largadão na cama com os pés
Batendo na parede, os passarinhos
Com seus guarda-chuvas das folhas
De oiti dando pulinhos e reclamando da vida
Impossível, impossível não ser o eleito de meu deus.
Mesmo assim, não perco minha rebeldia
E jogo pela janela carocinhos de laranja.
sábado, 13 de junho de 2015
O que seria de você
Se eu fugisse.
Abrisse aquela porta
Pra comprar pães
E não voltasse.
A qual andarilho você doaria
O meu fígado de Prometeu
E minha caixa de Pandora?
Você não teria mais as minhas mãos
Pra dar tiros no escuro nem meus suspiros
Dentro de garrafas de vinho em noites loucas.
A qual fantasma você ofereceria meus medos tolos,
Minha insônia ridícula e a minha libido exuberante?
Sua sorte que apostei meu coração
Nesse negócio de poesia.
Uma fortuna
Incalculável.
Se eu fugisse.
Abrisse aquela porta
Pra comprar pães
E não voltasse.
A qual andarilho você doaria
O meu fígado de Prometeu
E minha caixa de Pandora?
Você não teria mais as minhas mãos
Pra dar tiros no escuro nem meus suspiros
Dentro de garrafas de vinho em noites loucas.
A qual fantasma você ofereceria meus medos tolos,
Minha insônia ridícula e a minha libido exuberante?
Sua sorte que apostei meu coração
Nesse negócio de poesia.
Uma fortuna
Incalculável.
sexta-feira, 12 de junho de 2015
quinta-feira, 11 de junho de 2015
É muito azar galinhas-d'angola
Um bando delas em cortejo
Passar cantando diante
Do cadafalso na hora
Em que o enforcado dizia
O seu último discurso.
"Sim, o meu coração está fraco, está fraco,
Está fraco, está fraco..." Concluiu o homem
Com a corda no pescoço.
A sua espirituosidade
Rendeu o perdão
Do rei.
Um bando delas em cortejo
Passar cantando diante
Do cadafalso na hora
Em que o enforcado dizia
O seu último discurso.
"Sim, o meu coração está fraco, está fraco,
Está fraco, está fraco..." Concluiu o homem
Com a corda no pescoço.
A sua espirituosidade
Rendeu o perdão
Do rei.
Descobriram os meus podres.
Agora toda a vizinhança sabe
O que aprontei quando criança:
Fumava da folha seca de bananeira,
Abria barrigas de lagartixas, atravessava
Palitos de picolé nos abdomes de cigarras,
Prendia vaga-lumes em pote de vidro até cansarem de brilhar.
A sociedade livrou-se de um psicopata
Por pura generosidade da poesia.
Agora toda a vizinhança sabe
O que aprontei quando criança:
Fumava da folha seca de bananeira,
Abria barrigas de lagartixas, atravessava
Palitos de picolé nos abdomes de cigarras,
Prendia vaga-lumes em pote de vidro até cansarem de brilhar.
A sociedade livrou-se de um psicopata
Por pura generosidade da poesia.
Conheci um papagaio
Que comia todas.
Passava uma galinha.
"Comia", dizia o papagaio.
Passava uma ema
Debaixo da sua janela.
"Comia", sorria o papagaio.
Passava um porco-espinho.
"Por que não? Comia"
Até que passou
Um da sua espécie.
O papagaio pensou,
Coçou a cabeça,
Cavanhaque:
"Meu caro,
Vale incesto?"
Que comia todas.
Passava uma galinha.
"Comia", dizia o papagaio.
Passava uma ema
Debaixo da sua janela.
"Comia", sorria o papagaio.
Passava um porco-espinho.
"Por que não? Comia"
Até que passou
Um da sua espécie.
O papagaio pensou,
Coçou a cabeça,
Cavanhaque:
"Meu caro,
Vale incesto?"
Acredite no amor
Se você estiver feliz.
Bobo, perdido,
Com apetite
Sexual.
Quando se ama
A gente adora
Fantasias.
Não é como se pensa
A prostrar-se apático,
Quimérico, lânguido.
Não, não.
Quando se ama
Vivemos apaixonados.
(Febris e loucos e tesudos)
Amor é paixão
Com docilidade.
Digo isso ao ser cobaia:
Escrevia poemas ternos.
Depois enlouqueci e matei.
Mas aí, baby,
Já não era amor
Nem paixão amorosa.
Era outra coisa
Além da fronteira.
Digamos, um panda
Que se revolta contra
O seu tratador chinês.
E come-lhe o coração.
Se você estiver feliz.
Bobo, perdido,
Com apetite
Sexual.
Quando se ama
A gente adora
Fantasias.
Não é como se pensa
A prostrar-se apático,
Quimérico, lânguido.
Não, não.
Quando se ama
Vivemos apaixonados.
(Febris e loucos e tesudos)
Amor é paixão
Com docilidade.
Digo isso ao ser cobaia:
Escrevia poemas ternos.
Depois enlouqueci e matei.
Mas aí, baby,
Já não era amor
Nem paixão amorosa.
Era outra coisa
Além da fronteira.
Digamos, um panda
Que se revolta contra
O seu tratador chinês.
E come-lhe o coração.
quarta-feira, 10 de junho de 2015
Em outra vida
Fui escravo.
Cuidava do celeiro egípcio
Específico pra calamidades.
O meu posto era no galpão de trigo,
Onde eu e mais dois chapas criamos
Um treco especial chamado aguardente.
Não é pra me gabar,
Mas o faraó bêbado
Via-me um sacerdote.
E oferecia-me mulheres
Lindas com aqueles
Olhos pintados.
Uma luxúria.
Em outra vida
Eu fui escravo.
Tive uma vida boa
No reinado de Ramsés III.
Fui escravo.
Cuidava do celeiro egípcio
Específico pra calamidades.
O meu posto era no galpão de trigo,
Onde eu e mais dois chapas criamos
Um treco especial chamado aguardente.
Não é pra me gabar,
Mas o faraó bêbado
Via-me um sacerdote.
E oferecia-me mulheres
Lindas com aqueles
Olhos pintados.
Uma luxúria.
Em outra vida
Eu fui escravo.
Tive uma vida boa
No reinado de Ramsés III.
Depois me manda o nome do teu babalorixá.
Tentei alguns xamãs com tendência taoísta.
Mas todos foram enfáticos em me dizer
Que em assunto de coração de poeta
Apenas aos babalorixás cabem
O destino.
E eu vago pela casa de bermudão
Cavanhaque grisalho à toa
Só esperando a hora
Do meu café.
Nem leio mais
Os meus livros.
Tentei alguns xamãs com tendência taoísta.
Mas todos foram enfáticos em me dizer
Que em assunto de coração de poeta
Apenas aos babalorixás cabem
O destino.
E eu vago pela casa de bermudão
Cavanhaque grisalho à toa
Só esperando a hora
Do meu café.
Nem leio mais
Os meus livros.
terça-feira, 9 de junho de 2015
segunda-feira, 8 de junho de 2015
Que significa século vinte e um
Para alguém que não enxerga
Com o coração?
Pessoas que guardam espinhos
Dentro dos olhos não aceitam
O próximo e a diferença.
Violentas e tristonhas
Essas pessoas sofrem.
No íntimo vivem perdidas
Sem clareza dos grilhões
Que levam aos tornozelos.
Família nasce do amor
E não de gêneros.
Amem-se.
Para alguém que não enxerga
Com o coração?
Pessoas que guardam espinhos
Dentro dos olhos não aceitam
O próximo e a diferença.
Violentas e tristonhas
Essas pessoas sofrem.
No íntimo vivem perdidas
Sem clareza dos grilhões
Que levam aos tornozelos.
Família nasce do amor
E não de gêneros.
Amem-se.
Há poetas que não precisam
De uma força oculta dirigindo-lhes
Os pensamentos, as mãos e planos.
São poetas práticos, objetivos, realistas.
Nunca encontram dificuldade no cotidiano.
Trocam lâmpadas,
Escrevem matérias geniais,
Abrem garrafas de espumante,
Não esquecem o aniversário da esposa.
Outros sequer dão um passo imaginam
Que as suas pernas não lhes pertencem.
De uma força oculta dirigindo-lhes
Os pensamentos, as mãos e planos.
São poetas práticos, objetivos, realistas.
Nunca encontram dificuldade no cotidiano.
Trocam lâmpadas,
Escrevem matérias geniais,
Abrem garrafas de espumante,
Não esquecem o aniversário da esposa.
Outros sequer dão um passo imaginam
Que as suas pernas não lhes pertencem.
Não entendo as mulheres
Que suportam homens felizes.
Aquele sorriso de encantamento,
Perdoo se estiverem amando.
A questão é que há homens felizes
Durante toda a vida solitários ou não.
Não entendo como os passarinhos
Suportam os poetas melancólicos
Que têm a janela de frente
Pros seus ninhos.
Que mundo
Especial,
Baby.
Que suportam homens felizes.
Aquele sorriso de encantamento,
Perdoo se estiverem amando.
A questão é que há homens felizes
Durante toda a vida solitários ou não.
Não entendo como os passarinhos
Suportam os poetas melancólicos
Que têm a janela de frente
Pros seus ninhos.
Que mundo
Especial,
Baby.
Queria um momento a sós com você:
Ouvi-la, ouvi-la, ouvi-la, falar-lhe
De alguns segredos meus,
Beijar seu pescoço,
Morder-lhe orelha,
Fazer amor.
Depois iria pra casa da minha mãe
E você pra sua. Se a saudade apertasse,
Eu lhe enviaria um vídeo meu erótico e você
Escreveria um poema romântico. Simples assim.
Ouvi-la, ouvi-la, ouvi-la, falar-lhe
De alguns segredos meus,
Beijar seu pescoço,
Morder-lhe orelha,
Fazer amor.
Depois iria pra casa da minha mãe
E você pra sua. Se a saudade apertasse,
Eu lhe enviaria um vídeo meu erótico e você
Escreveria um poema romântico. Simples assim.
domingo, 7 de junho de 2015
Meu filho, ultrapasse o corredor escuro
Do casarão de seus avós e só dê ouvidos
À sua sombra. Junte sua coragem ao alforje,
Prenda na crina do seu cavalo, cavalgue, conquiste
Mundos, enfrente demônios, dragões, moinhos e não
Acredite que Sancho Pança quem cuidava de Dom Quixote.
Era o Cavaleiro da Triste Figura
Que iluminava a vida do seu vassalo.
A poesia é mais bela, meu filho,
Com o sol atravessando brumas.
Do casarão de seus avós e só dê ouvidos
À sua sombra. Junte sua coragem ao alforje,
Prenda na crina do seu cavalo, cavalgue, conquiste
Mundos, enfrente demônios, dragões, moinhos e não
Acredite que Sancho Pança quem cuidava de Dom Quixote.
Era o Cavaleiro da Triste Figura
Que iluminava a vida do seu vassalo.
A poesia é mais bela, meu filho,
Com o sol atravessando brumas.
E poucos pensam naqueles
Que detestam os crédulos,
Os fiéis, os bons e justos.
Detestam, mas convivem
Sem pensar em estrangulá-los.
Pensar até pode.
E poucos compreendem aqueles
Que não sonham em salvar a alma.
Nem por isso vivem ao lado
Dos tolos demoníacos e ávidos.
Esses tristes, esses vazios,
Esses homens de péssima vontade,
Apenas ficam em seus cantos melancólicos.
Lendo um livro
E acarinhando
Um bichano.
Felizes.
Que detestam os crédulos,
Os fiéis, os bons e justos.
Detestam, mas convivem
Sem pensar em estrangulá-los.
Pensar até pode.
E poucos compreendem aqueles
Que não sonham em salvar a alma.
Nem por isso vivem ao lado
Dos tolos demoníacos e ávidos.
Esses tristes, esses vazios,
Esses homens de péssima vontade,
Apenas ficam em seus cantos melancólicos.
Lendo um livro
E acarinhando
Um bichano.
Felizes.
sábado, 6 de junho de 2015
Deixei pra trás o último fantasma.
Um bêbado de antepassado que vivia
Seguindo-me os passos sobre meus ombros.
O poeta não julga
As suas ações.
Mas no fundo sabe
Da loucura do vinho.
Não me sinto forte
Por haver sumido
Com o corpo.
Não me iludo.
Sei que há
Outros.
Meus ombros são largos
E onde pousam passarinhos
Também caem auras de parentes
Distantes perdidos que só querem diversão.
Muita coragem bater o sino de bronze
Dentro de um mosteiro enquanto
Luzes piscam lá fora.
Um bêbado de antepassado que vivia
Seguindo-me os passos sobre meus ombros.
O poeta não julga
As suas ações.
Mas no fundo sabe
Da loucura do vinho.
Não me sinto forte
Por haver sumido
Com o corpo.
Não me iludo.
Sei que há
Outros.
Meus ombros são largos
E onde pousam passarinhos
Também caem auras de parentes
Distantes perdidos que só querem diversão.
Muita coragem bater o sino de bronze
Dentro de um mosteiro enquanto
Luzes piscam lá fora.
No dia em que uma gaivota
Morrer engasgada com uma
Espinha de peixe atravessada
Não ouvirei este coração
Que rejeita o rum e as
Cartas de baralho
Mas não esquece
As palavras e cria
Fórmulas alquímicas
Misturando carne e espírito
Só pra dizer de que são compostas
Estas mãos que nunca foram minhas.
Não me perdoe
Pela poesia.
Morrer engasgada com uma
Espinha de peixe atravessada
Não ouvirei este coração
Que rejeita o rum e as
Cartas de baralho
Mas não esquece
As palavras e cria
Fórmulas alquímicas
Misturando carne e espírito
Só pra dizer de que são compostas
Estas mãos que nunca foram minhas.
Não me perdoe
Pela poesia.
A serpente não me mostrou o inferno.
Ao contrário, presenteou-me o paraíso.
Ela, o réptil bíblico e sensual,
Que ensinou ao solitário poeta
Com chantili
E chocolate
Na língua
As mulheres felizes
Jamais esqueceriam.
Só não revelou
(Por maldade
Ou distração)
Que um dia
Haveria saudade
Loucura e poemas.
E sob essas horas
Que a virtuosa serpente
(Réptil bíblico e sensual)
Escorrega pelos arbustos e cerejeiras
À espera do peito triste do sonhador.
Ao contrário, presenteou-me o paraíso.
Ela, o réptil bíblico e sensual,
Que ensinou ao solitário poeta
Com chantili
E chocolate
Na língua
As mulheres felizes
Jamais esqueceriam.
Só não revelou
(Por maldade
Ou distração)
Que um dia
Haveria saudade
Loucura e poemas.
E sob essas horas
Que a virtuosa serpente
(Réptil bíblico e sensual)
Escorrega pelos arbustos e cerejeiras
À espera do peito triste do sonhador.
Durante toda a minha vida
Não me lembro de ter existido
Fora de mim mesmo: Não sou
O morador, sou a própria casa.
A casca do ovo,
O núcleo da gema.
Quando vi vocês
Com seus martelos
E ferramentas pensei
Epa, vão me tirar à força
Da minha cabeça, sabe naquela
Noite alguém entrou e era você
Tão linda com seu vestido de peles.
Uma ave de ribanceira,
Uma codorna ferida.
Não me lembro de ter existido
Fora de mim mesmo: Não sou
O morador, sou a própria casa.
A casca do ovo,
O núcleo da gema.
Quando vi vocês
Com seus martelos
E ferramentas pensei
Epa, vão me tirar à força
Da minha cabeça, sabe naquela
Noite alguém entrou e era você
Tão linda com seu vestido de peles.
Uma ave de ribanceira,
Uma codorna ferida.
sexta-feira, 5 de junho de 2015
O meu contentamento
(Nunca houve outro)
É o ruído da corda
Em volta
Do pescoço.
Parece-me
Que mataremos
Um rato que não soube
Roubar com elegância um beijo.
Desde cedo compreendi a farsa
Dos sorrisos fáceis e perigosos.
E não levei adiante
Tal descoberta como arma,
Tatuagem no peito, um brasão.
Subi às estrelas escuras
Partilhando a poesia.
(Nunca houve outro)
É o ruído da corda
Em volta
Do pescoço.
Parece-me
Que mataremos
Um rato que não soube
Roubar com elegância um beijo.
Desde cedo compreendi a farsa
Dos sorrisos fáceis e perigosos.
E não levei adiante
Tal descoberta como arma,
Tatuagem no peito, um brasão.
Subi às estrelas escuras
Partilhando a poesia.
Assinar:
Postagens (Atom)