sábado, 27 de setembro de 2014

Cabeça

Se eu me calasse
Após ter escrito
Cada poema,

Existiria algum
Entendimento.

A névoa passa
Pelos vãos dos dedos
E antes que ilumine os olhos
O completo nevoeiro cega-me.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Torneio feminino

Não somos donos
Das meninas que passam
Pela outra calçada vestidas
Com shorts e meias de vôlei.

O que os poetas têm de sobra
É uma facilidade em contemplar.

Claro que às vezes uma plantinha
Morre na varanda por descuido
Dos nossos olhos.


Artifício

Faça fogo
Com os gravetos
Que você dispõe.

Basta saber
Esquentar as linhas
Das palmas das suas mãos.

A miopia da delicadeza

Quando você distraído
Passar por um jardim
E as flores sorrirem

Ao alcance
Das mãos,
Toque-as.

(Nem que seja
Com as pontas
Dos seus dedos).

Não se sinta acima
Do bem e do mal.

As suas preocupações de verme
São insignificantes ao delírio amoroso
Das flores de um jardim de prédio ou praça.

Toque-as,
Nem que seja
Com as pontas
Dos seus cílios.

Por que você acha que as abelhas,
As borboletas e os beija-flores,
Têm o olhar meio grogue?




terça-feira, 23 de setembro de 2014

Neon

Há instantes em que imaginamos
Encantar a amada com um som mágico
Tirado de um piano velho no canto da casa.

Mas o piano, meu bem, ilude
Aquele que sonha sem esforço.

Vestido de chita

Se à primeira vista
Você detestar-me,
Não fuja.

Não faça macumba
Contra este poeta.

Juro que minha companhia
Ultimamente é bem bacana.
(Voltei a cheirar meus braços
E a sonhar-me com a infância).

Guarde os seus livros.
Guarde o que você aprendeu.

Rodopiarei contigo na calçada
Até cairmos juntos (tontos)
Sem tutano na cabeça.


Inquietude

Um palhaço com riso irônico
Perguntou-me se eu estava
Pintando os cabelos
De branco.

Respondi-lhe
(Cínico) que só se fosse
Pra noiva dele apaixonar-se.

Lembrei-me então
Que a noiva do rapaz
Era tão linda, mas coxa.

Brás Cubas,
Antes de mim,
Já se questionara:

"Por que bonita, se coxa?
Por que coxa, se bonita?"


segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Samurai

De verdade,
Parece-me que aquele
Que ama (sinceramente)
Não tem tempo pras palavras.

Prefere a companhia
Do seu amor e o perfume
Dos cabelos e braços do seu amor.

De verdade,
Aquele que gasta as noites
Com o lápis entre os dentes
Pensando em fabricar versos

(Quando as paredes
Começam a inspirar)

Então (penso)
Que o amor cansou.

Sim, baby,
O amor cansa.

E há quem sonhe
Com esse cansaço
Para retornar à vida.

Soleira

Angústia, meu poeta, eu já tive:
Os poemas não tinham intimidade
Com as minhas mãos naquele tempo.

O que escrevo agora
É pele que muda.


domingo, 21 de setembro de 2014

O carpinteiro, o pescador e o ferreiro

O ofício de compor poemas
Ajusta o meu crânio entre
Nuvens e minhas botas
(Empoeiradas) juntas
Sob a escrivaninha.

O que sobra
É um coração
Ávido (tão ávido)
Por mais sangue.

Frescor

Há poemas que gostamos de escrever
Antes mesmo que chegue ao fim
A respiração.

São deuses esses poemas
E não desejam sequer
Uma palavra.


Busto

Se dói uma costela
Quando respiro

É que existe
Uma mulher
Que me ama.

Se doem duas,
Preciso de morfina.


Carrossel de caballos loucos

O meu amor
Usa rímel
Toda vez
Que chora.

Eu me comovo
Com ela na cama
Diante do espelho.

Chora ela o bastante
Só pra marcar o rosto
Dos próximos sonhos.

O meu amor
Depois puxa
A sobrancelha
E me diz baixinho
Que tá ficando velha.

Qualidade do que é tépido

Escrever poemas
Em uma tarde de domingo
Mexe com os cílios da gente.

Ainda não aguei as plantinhas.
Mas o uniforme do trabalho de amanhã
Já engomado sobre a mesinha do quarto.

Aquele quarto velho
Em que as portas
Foram devoradas
Por cupins chineses.

Lembra?

Esquimó

A minha frieza só vai ao limite
De deixar o açucareiro dentro
Da geladeira sem a tampinha.

As formigas que vão juntas
Não morrem (daí o perigo)
Vivem doces mais tempo.

Blues

Não é que o coração falhe
Ou tente iludir seu dono.

Mas há no que diz
Um passado
Ébrio.

Natural que o coração junte
As lembranças das artérias
E ouse empilhar as peças
Do sonho.

Veja, meu bem,
O seu coração
É um doce.

O meu é um dano.


Lânguido

Inspecionar os porta-retratos
(De longe) acariciando
O cavanhaque...

Ah, então felicidade
É isto, meu bem?


Café da manhã

Que seria da minha vida,
Da minha melancólica vida,

Se não fosse esse fingimento amoroso,
Essa dissimulação sensual de mimos e dengos
Quando você desce a escada do prédio e ouço sua voz:

"Amor, meu amor, não se esqueça
Do seu celular sobre a cadeira de vime..."

sábado, 20 de setembro de 2014

Lírios frescos na cesta

O que você teria de mim para sempre?
Versos. Não é uma boa troca
Por casa e segurança.

Onde durmo
As portas abertas
Trazem de noite aos olhos
Uma brisa permanente de espantos.


Dos embarques

A minha voz estará guardada
Entre as junções das sílabas.

Quem um dia
Por algum motivo
Ouvir a minha alma

(Um poema jogado
À mesa da cozinha)

Lembrará que morte
É outro sinal de vida.


Das infinitudes

O livro de poesia
É um confidente.

Sobre ele
O seu rosto
Confessa a febre
E o frio das maçãs.

Dos afazeres das nuvens

A gente cria
Um olhar diferente
De tocar nos objetos
Que pode passar do toque.

Acabar sendo a alma do objeto.
(Esse silêncio que nos dissolve)

Carpintaria

Uma criança
Não se cansa
Dos seus tombos.

Escrever poemas,
Às vezes, sugere
Um joelho novo.

Tantas cicatrizes
Não cabem somente
No corpo das palavras.

Rosto de abandono

Eu me valho do amor.
Dos que vivo em outro plano.

Neste, apenas
Tramo, ah,
Tramo.

(Mas das tramas
De bichos-de-seda
Não nascem encantos?)

Bodas de vinho

Aos setenta anos
O senhor quando olha
Pro rosto da sua senhora

Não são rugas que vê
Mas trilhas de encantos.

Viva até lá
Um infinito amor
E entenderá outro nome
Que se oferece à velhice.

(A morte é só mais bálsamo
Ao frescor do que não morre)

Artigo penal

Suba ao topo da árvore
(Da sua calçada) e roube
Aquele bilhete de passarinho.

Ninguém aprende a voar
Sem um furto secreto.
Agora é contigo voltar aos meus braços

Já colhi as flores
Que tu amas.

(Com a metafísica
De um cafezinho)

Enredo de um míope

Para o poema ficar fácil
Escolho uma palavra doce.

Nem sempre morro
De pesares.

Se não cair bem a tal palavra doce,
Escolho uma palavra rosa no diminutivo.

E assim vou (atando
As minhas costelas).


Imortais

"O cavalo selvagem trota
Elegante sobre nuvens"

É tudo que digo
Dos meus suspiros.

(Antes pensava em ânforas
Ou em caixinha de música)

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Concha

De uma fisgada
Meu coração
Pode parar.

Levante seus olhos, querida,
Esses olhos de pescar poeta.


quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Ofício

Natural que o padeiro
Apaixone-se pelo trigo.

E que o ferreiro
Beije o fogo.

Os incautos se preocupam
Com os mistérios da dúvida.

Eu escrevo poemas.


Das insígnias

No dia em que perder o braço
Por amor aos poemas escritos
Escreverei outro ainda teimoso.

Se a água da fonte se cansa
De descer abaixo dos olhos,
Será a minha língua
Os cílios.

Silhuetas

Existe o poema perfeito.
Aquele que as palavras
Perdem o sentido.

Não fazem pontes
Com outras nem
Encaixes.

Nem um fio
De memória.


Trem e chaminés

Maturidade não vem com o tempo.
Com o tempo vem a calma
Em abotoar os botões
Da camisa.

Até o momento em que os dedos
Fazem o trabalho sozinhos
De beijar os botões
E soprá-los.


Bibelôs de pomar

Vivo derrubando as frutinhas da porta da geladeira.
Aqueles enfeites colados com ímã que lembram
Uma feira mágica para duendes.

Sempre que me abaixo
O coração bate
Tão rápido:

Imagino você
Na sua cozinha.

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Vívido

O toque da palavra é um.
O toque da ponta do dedo
No lábio da pessoa é outro.

Nunca se esqueça
De também amar
O que é pele.


Alcova

Na sua intimidade,
Lá que eu habito

E conheço
As suas
Unhas:

O tanto que foram roídas
Do livro que leu e a outra metade
Dos sobressaltos dos últimos sonhos.


Pipas

Os frágeis gravetos
Da separação
São ótimos

Pros ninhos
Dos pássaros:

Além de esquentar
As paredes da casa  
Servem para violinos.


Repartição

Um telefonema despretensioso entre aspas.
(E a colega de trabalho logo entende
O olhar perdido do poeta).

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Pateta

O seu coração aprendi a segurá-lo
Com as conchas das minhas mãos.

E não me digas
Que é sonho.

(Desde criança
Que durmo?)


Cegante

Falo dos poemas
Como se falasse
Das minhas botas.

Não ganho outra vida
Com as palavras.

As palavras sabem
Do nosso jogo.

Quem se converte à tolice
Nunca, nunca será o tolo.


Fuzilado

O poema não é uma carta na manga.
Uma moeda de ouro entre os dentes.

Não é o suspiro que define
O seu vazio, mas as costelas
Quebradas da última lembrança.


segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Fronteiras

Os poemas que o poeta escreve
São iguaizinhos aos seus olhos.

Cego (ou fingindo cair)
O poeta tem o mesmo andado
Dos seus poemas quando saem de casa.


domingo, 14 de setembro de 2014

A camponesa ainda colhe maçãs no meu peito

Aquela louca perseguição
Aos teus tamancos
E cachos

Era a minha mais óbvia
Declaração de beatitude.

Eu nunca fui bom.
Mas o queria ser.

Escrevo-te cartas, rasgo-as,
E do atrito dos meus dedos
Em contato com o papel
Não há alquimia.

As palavras não se juntam para ser ponte.


quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Desmembranas

Esqueça o amor,
O amor da posse
Está falido, poeta.

Escreva sobre
O afeto das coisas.

Da mesa redonda de vidro.
Da cafeteira. Das duas ânforas
De cerâmica. Da sua xícara branca.
Do tapete da sala e do outro tapete
De pele de bode na varanda. Dos jarros.
Dos jarros vazios que você (canalha) nunca
Plantou sequer um suspiro. Dos outros jarros
Em que você admira crescendo as suas plantinhas.

Desde que o conheço,
Poeta, você teve tendência
Pra possuir pessoas: então,
Acredite, o amor de posse humana
Faliu e agora só escreva sobre o afeto.

O afeto das coisas.

Réu diante de um tribunal de nuvens

Diga-me, seu moço,
Como parar com esses delírios:
Até as torradas tirei dentro do pote
E escrevi sobre elas ao desmanchar-se
Entre os meus dedos enquanto passava-lhes margarina.

Comentei que seus últimos pensamentos
Eram gracejos por eu não usar aliança.

Não é da vida delas
A minha solidão.

Ou seria, seu moço,
Da vida das torradas
Os delírios que escrevo?

Das epopeias cotidianas

Com o tempo
Acostumo-me
De que o quarto
O quarto antigo
Agora tem luz
Pra iluminar
Os insetos.

Quanto à porta da cozinha
Em que vivo batendo
(Ora joelho, ora
Dedinho)

Pagarei dez paus
Pro porteiro levar comigo
O bagulho à lixeira da esquina.

O poema é só um jeitinho
De trazer pras palavras
O que o corpo sente.

A alma é o resultado final
Do trabalho das minhas mãos.

Dos amores apreensivos

Morro de medo
Quando minha mãe
Desce a escada do prédio.

Normalmente é no horário
Em que na cozinha faço café.

Certa tarde passei três minutos sem respirar
Enquanto minha mãe no quinto degrau
Conversava com uma amiga
Sobre cajus e o papa
Francisco.


Aventura em quadrinhos

Um dia fui ajustando um poema
Como quem poda uma árvore minúscula
Ou como quem tosa uma ovelha cabeluda.

Quando vi tava a miniatura de árvore
Somente os galhos e a ovelhinha
Olhava-me furiosa.

A pequena árvore esqueleto
Lançou um galho ao meu olho.

E a ovelhinha despida
Mordeu-me o braço.

O que fiz?
Ora, corri.

Até a árvore sentir frio
E a ovelha morrer
De vergonha.


quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Pane

Te digo agora
O que amo:

Os sons
Dos objetos
Que não falam.

Em casa me olhando.
E me olham iguais a mendigos
Que esperam o olhar da gente de volta.


Manjedoura de passarinhos

Não por falta de coragem
E muita dose de loucura
Tentei ser só poeta

E afugentar
A açoites de vocábulos
O homem comedido e temente.

Só então, aos berros e sangramentos,
Entendi que o homem também adora
Vocábulos e as coisas inexprimíveis.

O poema é uma parte do seu braço.
Uma continuação da sua sobrancelha.
A unha que cresce e ele (dúbio) não nota.

Nessa mistura de dores e ausências
O homem tem de ser um pouco
Além daquele que escreve.

A emoção
(Quando existe)
Pertence só a ele.


Ambiente

No caminho da varanda
Ainda sobre o tapete
Tem um balde
De alumínio

(Desses de juntar leite
Em fazendas bucólicas)

Dentro do balde de alumínio
Há várias revistas de moda.

Todas esteticamente
Bem postas e guardadas
Como se pirâmides, sei lá.

A minha irmã
É um barato.


Cadafalso

O mais delicioso de uma pequena gripe
De uma insignificante garganta inflamada
É supor minha partida e nunca mais escrever.

Você lembra que um dia lhe disse
Que ao morrer escreveria mesmo
Se fosse com sua mão
Dormindo?

Tolice,
Amor.

Depois de morto
Tenho apenas
uma certeza:

Médico nenhum me dará
Somente dois dias
De atestado.


Pêndulo

O tolo é dividido em dois:
O que ouve as próprias asneiras
E o outro que se conforma com o vazio.

O poema ainda é um refúgio
A quem sabe da mediocridade.

E não muda o tolo
(O que pensa e o que ouve)
Mas é outra a sua voz escrita.

Virose

Com a mão posta
Sobre o coração
Ensanguentado

Busco o xamã
Mais próximo.

Não há namorada
Que atravesse comigo
A floresta do Pântano Sombrio.

Nem as montanhas geladas
Dos meus tornozelos solitários.

As mulheres, as amadas,
São quimeras, meu poeta.

E as quimeras nunca sustentam
Em seus ombros de névoas
Meus braços dormentes
E inchados.

[De pateta que recebeu
Uma bela injeção
Pra dor]


terça-feira, 9 de setembro de 2014

Luz de lamparina

Uma caixa de sapato
É o encosto pra que
A porta do quarto
Não bata.

Ou se o fizer
Não trema
A parede.

Lúcido assim,
Meu amor,

É o tempo
Que me cerca.


Muita clorofila dá barato

As minhas plantinhas cresceram.
Esqueceram-me. Nunca mais
Vieram até a sala
Onde escrevo.

Nunca mais puxaram
As pernas desfiadas
Do meu bermudão.

Não pedem atenção.
Hoje vivem sem água.

Só querem (às vezes)
A minha companhia
Enquanto corto
As unhas.

É um belo lugar a varanda
Sentado na cadeira de vime.

Navegar é um hábito

A beleza é digna dos meus olhos
Se descerem algumas lágrimas
Até meus lábios.

[O tesão é tão lírico
Ao silêncio do amigo]

Náufrago, quando tu escreves poemas
Trocas as letras com regularidade?

Ou essa dislexia é só do poeta
Em noites de forte tempestade?


segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Quando a casa não é montanha

Já bateste com a costela
Na quina da maçaneta
Da porta?

Então sabes daquela dor
Que um cavalo
Selvagem
Sente

Quando pregam
Uma ferradura
No seu casco.

Não é dor de carne e osso.
É uma dor de asa partida.


Desligado

Atravessar os lençóis úmidos
Pendurados no varal do banheiro
Lembra-me do tempo das bananeiras
Das folhas chuvosas da minha infância.

Os lençóis são cheirosos.
Também as folhas
Das bananeiras.

A cada alma
O seu perfume.


Ganges

O que você é será até o fim dos seus dias.
Contente ou não mágico é o hoje.

O tropeçar e o nariz na lama.
O pombo que lança um míssil creme
Ao colarinho da sua engomada camisa branca.

Mas veja na esquina uma nota de cinquenta.
Olhe aquela menina no ônibus estreando o rímel.

Mágico é o hoje
E você não vive.

Não se exima de culpa:
O hoje foi e parte-se
Diante dos seus
Olhos.


domingo, 7 de setembro de 2014

Dos perfumes

Ganhei um sabonete
Em forma de lágrima.

Talvez seja,
Decerto

Pra que me lembre
De que tomar banho
É o ritual da saudade.


Primavera

Entreguei meus cartões à minha mãe.
O ópio ao chinês do mercado.
O uísque ao cavalo do bar.

Só e sóbrio
Penso em escrever
Uma carta pro meu amor.


Escudo de lírios

Haverá o dia em que meus olhos
Cansarão do que não tocam

E ordenarão aos cílios
Que destrancem
O encanto.

Diga-me, meu bem:
Dentro da ampulheta
A areia molhada das minhas lágrimas
Germina com outro olhar os girassóis antigos?


sábado, 6 de setembro de 2014

Magneto

Colher orquídeas nas paredes do abismo
Corre-se o risco de apaixonar-se pela vertigem.

E esquecer-se das asas
Sem utilidade no abandono.


quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Figuras de Origami

Anda firme, ainda que trôpego,
Mas com o coração firme
E a tua fé não falha.

Teu deus renascerá das tuas cinzas
Será o complemento do teu corpo.

Não há simbolismo no que te digo:
As palavras estão escritas nos sulcos
Das folhas e hastes das árvores centenárias,
Nas mudas dos répteis, nos olhos dos peixes.

(As asas dos pássaros
Guardam o sopro).

Há poemas que precisam da mentira
Como uma boa conversa entre velhos.

Outros são puros socos no estômago
De um perfeito silêncio e espanto.

Não há segredo no que te digo:
As palavras estão escritas nas tuas costas,
Em cada fio dos teus cabelos que é o mesmo fio.

(A cor desnuda
Apenas o tempo).

Anda firme, ainda que suspenso,
Mas com o coração firme
E a tua fé não morre.

Teu deus sempre renascerá
Das tuas cinzas e será
O sopro da tua voz.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Escafandro

O seu boa noite
Tanto arde quanto dói 
Mas uma manhã acordarei
Descalço sem saudades dos seus chinelos.

(Como é fácil aos poetas
Criar uma situação de desespero
Onde só existe uma tarde de tédio)