sexta-feira, 9 de agosto de 2013

resquícios do jantar

Eis largados sobre a escrivaninha -
prato, garfo, colherinha, xícara,
taça de sorvete.

Cada um deles tem uma história particular
com a minha língua, lábios, boca.

A taça de sorvete além da última lambida
recebe de bom grado o meu dedo
ávido pela calda de chocolate.

Enquanto o prato
sempre acaba solitário
com algum vestígio de arroz
ou de feijão ou das espinhas de peixe.

A xícara permanece com aquela lágrima
preta do café borrando sua face branca de leite.

O garfo é garboso,
a colherinha humilde.

Às vezes tenho plena consciência
de que o meu amor pelos objetos domésticos
é superior ao que sinto pelas mulheres dos meus sonhos.

E ei-los largados sobre a escrivaninha
cada um esperando logo mais
a esponja e o detergente -
cruéis vassalos
do rei.


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