terça-feira, 30 de julho de 2013

um homem maduro

Lembre-se, moço, que os seus gladiadores
e soldadinhos de ossos de galinha
e ossos de tutano de boi,

os seus carros de lata de óleo,
as suas moedas encantadas
tampinhas de refrigerante -

salvaram a sua infância
e coroaram a sua alma
de encantos.

Se hoje você se perde
em devaneios olhando
simplesmente paredes
com as suas ranhuras

a exuberância nasceu
naquele tempo de miséria
em que você menino brincava.

Os seus heróis de ossos de animal,
os velozes carros de lata de óleo
puxados por barbante,

as moedas do tesouro
tampinhas de refrigerante,
o seu barquinho de papel
de embrulhar pães, os grampos
da sua mãe que você alargava-os
para que se transformassem monstros -

era a sua mente infantil e brilhante
que lhe oferecia do seu coração
vida para o poeta que hoje
chora.

Não é tempo de morte,
moço, nem de despedida
mas aproveite essa delicadeza
e beba um pouco das suas lágrimas.

Elas são bentas,
o mundo a seu redor
respira o seu oxigênio.

Lembre-se que a doçura dos objetos
não muda - o que finda é a luz
do olhar, a janela sem grades.


Um comentário:

  1. Domingos, o mesmo menino, que não se perdeu e cresceu um belo homem. A poesia fez a ponte.

    Beijos,

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