quarta-feira, 17 de julho de 2013

o que o coração deve saber

Há tempos, meu bem,
que só bebo café,
café, café, café.

O meu coração já tem a manha
de bater firme e abusado
enquanto a cafeteira,
tímida, prepara
o cafezinho.

Sempre ao acordar, se dormi algum dia,
e ao entardecer das andorinhas
o meu café é sagrado.

Hoje, no entanto,
meu bem, uma alma caridosa
levou-me à cabeceira uma xícara
com essa incrível mistura de leite

e café - quase morri de verdade
por tanta emoção ao levar à boca
o aroma distante da minha infância.

E eu bebi café com leite
batendo os pés e erguendo
as mãos em sinal de arrebatamento.

A boa alma não me viu em profundo transe.
Fugiu  assim que me espiou na cama
fingindo dormir de leve
ereção.


Um comentário:

  1. Desconcertante, como de costume. Lembrando que o coração deve saber que o poema pode explodi-lo...

    Beijo, Bruxão!

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