domingo, 28 de julho de 2013

mulheres que trituram o coração

Antes de ir embora,
ela pediu para que eu subisse
o zíper das costas do seu vestido.

Eu morria de medo daquele vestido,
pois sabia quando ela o vestia
comigo ou com outro
passaria a noite.

À porta, tirou a mão do trinco
engomou a lateral do vestido
sorriu pecaminosa.

Um táxi
esperava-a.

Fiz mira com minha pistola
da janela da varanda.

Mirei o pneu, a cabeça do motorista,
a cabeça da minha amada.

Ainda tinha muitas coisas pra fazer naquela tarde:
aguar as plantinhas secas de quase uma semana,
louças na pia, limpar a sujeira do meu hamster.

Outro dia eu faço o que prometi
ao padre no confessionário - cair fora,
fugir da presença daquela mulher maldita.

Mas os seus olhos
já tinham me cegado.

E cego, cego da gota serena,
não há mais o que fazer da vida
o poeta perdido, louco, um santo.

É bom eu guardar a pistola
onde meu filho no final de semana
ao me visitar não encontre - dentro
da descargar do banheiro quebrado.

O que farei, até lá estiro
as pernas sobre o pufe
e jogo longe
um livro.


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