domingo, 7 de abril de 2013

a natureza dos atos

O meu barco virou em alto mar.
Só não me afoguei porque
uma tartaruga grande e velha
jogou-me sobre seu casco
e levou-me à praia.

Depois de fazer respiração boca-a-boca
e tirar dos meus pulmões toda a água
salgada do mar,

pediu-me apenas que eu cuidasse
com muito zelo e atenção
dos seus ovinhos
que ela havia
posto

ali perto,
em um lugar secreto.

A grande e velha tartaruga com seu casco riscado do tempo
deu-me as costas e foi-se vagarosamente.

E eu fiquei sentado dias após noites
vigiando atento os seus ovinhos.

Em uma bela manhã
rompeu-se do abrigo
um monte de filhotes
cada um mais afoito
do que o outro.

Corriam em direção ao mar
atropelando-se, atolando-se,
aqueles que pareciam perdidos
eu dava um empurrãozinho
com a ponta do dedo.

Salvaram-se todos -
graças a Deus e à ponta do meu dedo.

Voltei para casa
mas algo dentro do bolso
mexia-se e ao meter a mão o que vi?
Uma tartaruguinha a cara da mãe que me dizia:
"pa... pai, pa... pai..."

Ora, eu não tenho cara de tartaruga.
Ou tenho?


2 comentários:

  1. Se tem uma cena que sempre me emociona é a das tartaruguinhas correndo para o mar. E sorri com o seu poema, coisa mais meiga. =)

    Beijo.

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