sábado, 9 de março de 2013

zumbi

O poema tem suas manias.
E cada um é mais louco que o outro.

Tive de acordar já tarde porque
um certo poema simplesmente

ordenou-me que eu fosse ao banheiro
e não me esquecesse de fazê-lo vivo.

E como se faz vivo um poema,
digam-me, senhores, quando o artífice
já anda morto do cansativo dia debaixo de sol.

O poema não se importa com minhas frescuras.
Se trabalhei como peão ou se havia tomado
comprimido para dormir.

Os poemas, como disse, cada um tem sua tática.
Este que agora escrevo levantou-me da cama
a apavorar-me sob um pesadelo
em que eu mijava sem fim.

Na minha idade não há escapatória.
Vai que de fato realiza-se a maldição do poema?

Como de costume venceu-me o poema
e por mistérios e armadilhas
desses sujeitos -

levantei-me,
pus-me as mãos sobre o teclado
e fiz dele, desse poema sacana,
um verdadeiro homem distinto

com mil palavras na boca e um riso
envaidecido de quem ganha a batalha
contra o seu próprio parceiro de trincheira.

Satisfeito, senhor poema?
Agora, por favor, leve-me pra cama.


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