terça-feira, 19 de março de 2013

chá das seis

Faço parte de um grupo de solitários
que todos os dias se reúnem
em um buraco

para rir da mazela humana:
do carro novo que bateu no poste
sem ainda ter seguro ou do vestido de noiva
que sujaram de lama pouco antes do casamento.

E rimos à beça
que seguramos a pança.

Só bebemos água porque há aqueles
se beberem vinho enlouquecem -

e loucura é o que não desejamos
em nossas divertidas reuniões.

Exceto no dia do nosso protetor
em que cada um escolhe
seu próprio desfrute.

É uma celebração nesse dia
e todos se transformam
noutros seres:

lagartixas, passarinhos,
baratas, formigas,
rinocerontes.

Há um que sempre escolhe
ser uma xícara.

E fica lá sobre a estante
esquecido por todos.


Um comentário:

  1. Seria eu a ser a xícara? rs. A xícara é mais frágil que todos os outros e é inanimada... Mas foi ela que serviu seu poema anterior... O "chá das seis" ;-) abraços Domingos. Belíssimo texto! Diego.

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