Dou-lhe uma,
dou-lhe duas:
Quem recompensará o poeta
por sua alma fujona?
Ontem era um louco, uma víbora,
hoje é um anjo ouvindo blues.
Tão delicado o moço
que sua xícara treme
a tocar-lhe os lábios.
E amanhã, meninos,
o que será da sua vida
o corpo sem presságios
os passos lúcidos e firmes?
Dou-lhe uma,
dou-lhe duas:
a sua cova está linda
bem arrumadinha
lá no fundo
alguns livros
e uma orquídea.
Vejo coveiros sorridentes
e virgens de preto
bebendo vinho.
Dou-lhe uma,
dou-lhe duas:
juro que esse poeta
conhecerá noutra vida
o pai que não tem seu sangue.
Mas terá o seu rosto.
O seu rosto invisível.