segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

fuga

Dou-lhe uma,
dou-lhe duas:

Quem recompensará o poeta
por sua alma fujona?

Ontem era um louco, uma víbora,
hoje é um anjo ouvindo blues.

Tão delicado o moço
que sua xícara treme
a tocar-lhe os lábios.

E amanhã, meninos,
o que será da sua vida
o corpo sem presságios
os passos lúcidos e firmes?

Dou-lhe uma,
dou-lhe duas:

a sua cova está linda
bem arrumadinha
lá no fundo

alguns livros
e uma orquídea.

Vejo coveiros sorridentes
e virgens de preto
bebendo vinho.

Dou-lhe uma,
dou-lhe duas:

juro que esse poeta
conhecerá noutra vida
o pai que não tem seu sangue.

Mas terá o seu rosto.
O seu rosto invisível.