domingo, 24 de fevereiro de 2013

desaparecimento

Aquele poema que nos soa tão verdadeiro
é dito e assoprado aos nossos ouvidos
por nossa alma mais quieta.

Mesmo que falemos de trovões
destroçando nossas costelas

ou de lágrimas ácidas
a queimar nossos
lábios.

Aquele poema que nos vem tão límpido
sem manchas do dia louco que tivemos
e da noite anterior tão pesada

é forjado em nossos pulsos
por nossa alma mais quieta.

Essa alma que não se queixa da chuva
nem da nostálgica lembrança do orvalho.

Aquele poema que nos parece o único
aquele poema que nos acalenta
com suas mãos de fogo
e o seu olhar doce
de menino

é levado à nossa cabeceira
pelas mãos da nossa mãe -

um copo d'água e um comprimido
naquele tempo em que ter febre

era apenas um presságio
da ausência da morte.

Aquele poema que nos salva
é um grito sereno de alguém

que dentro de nossa alma
é a nossa alma
mais quieta.