quarta-feira, 14 de novembro de 2012

o fulgor da sensibilidade

Eu vi um homem triste
à beira do mar - as ondas
batiam-lhe os pés, subiam-lhe
nas pernas de um homem velho e triste.

De onde estava eu podia ver lágrimas
dentro dos seus olhos e podia ouvir
seus murmúrios- "tá bom, Deus quis,
tá bom, tinha de morrer nos meus braços..."

Perguntei a alguns pescadores na vila
por que aquele homem sofria tanto
se a mulher o deixara
há muito tempo.

Os pescadores balançaram a cabeça
de maneira desdenhosa fazendo crer
que eu estava completamente
errado - um vacilão.

"moço, aquele homem
perdeu o juízo desde
quando viu um bebê
de golfinho morrer
na praia... foi ele,
esse homem triste
e louco, que pegou
o bebê golfinho
nos braços
antes dele
morrer..."

Fiquei em silêncio,
em profundo e desesperador silêncio -

"será que a lembrança de um bebê golfinho
morto pode nos enlouquecer?"

Tossi, levantei-me da palhoça
e caminhei pela praia sem
saber o que pensar.

Nunca tive nos braços
um bebê golfinho
morrendo.

Deve ser triste -
é, deve enlouquecer
uma boa e sensível alma.


2 comentários:

  1. Menino, poeta: como me senti agora pequenininha!
    E quase chorei, se o pudesse.
    Beijos,

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  2. é como disse a Tania

    fazes-me chorar, imensamente triste

    beijinho

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