quarta-feira, 3 de outubro de 2012

o sobrenatural em nós

Lá fora o vento parece decidido
a matar quem o desafia

e a levantar saias
de donzelas.

No entanto ao entrar no meu quarto
o vento baixa a cabeça, beija meus pés,

tenta ser dócil com os pelos das minhas pernas
causando deleite a duas pernas de quase quarenta e sete.

Imagino quando eu estiver com oitenta
um dia antes de morrer o vento decerto
lamberá minhas pernas com sofreguidão
choroso e aflito,

"o que será de mim agora
sem as pernas do poeta
para arrepiar?"

Não sejas tolo, vento
haverá ainda muitas donzelas

para brincares levantando saias
e desarrumando seus penteados -

é o que direi 
antes de fechar os olhos
e nunca mais sentir vento algum
beijando meus pés e fazendo carinho nas minhas pernas.

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