segunda-feira, 15 de outubro de 2012

a porta ainda range sua morte

Que farei, pai,
sem o meu ópio.

Fujam dos meus olhos
os doces jardineiros
que beijam flores
ao amanhecer.

Fujam mas me deixem os almíscares e os sândalos
e os cabelos molhados de lavanda das camponesas.

Que farei, mãe,
sem o meu ópio.

Há-me uma necessidade louca
de desvendar essa quietude
que torce meu pescoço.

Já fumaram do meu cachimbo
pajés, reis até semideuses
todos ao fim me disseram
que sou mais santo
que eles.

Que me adianta a vida poupar-me
da asfixia e dos olhos arrancados
ao meio dia de amanhã?

Que farei, pai,
que farei, mãe,
sem o meu ópio.

Meu tornozelo quer fugir
do meu pé e voar acima
do telhado.

Tenho medo que alguma estrela
dê-lhe corda e rompa o tendão.

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