quarta-feira, 12 de setembro de 2012

entre a xícara e os óculos

Procuro pela casa algum objeto
que me venha dar um abraço.

Sinto falta dos abraços dos objetos
quando tonto me seguro pelas paredes.

A minha xícara sobre a mesa
silencia-se de lábio cortado.

Ela imagina que a desprezo depois daquele dia
em que alguém a levou à boca
e a deixou cair.

A minha xícara apartou-se
do meu coração e hoje
é apenas uma fria
cerâmica.

A minha salvação
é que tenho os óculos
que me falam ao ouvido
para erguê-los contra a luz
e tentar ver algum novo arranhão.

7 comentários:

  1. Domingos eu adoro demais a tua poesia, me lembra demais Manoel de Barros e adoro esse contemplar, essa imaginação que flui flui e voa tanto

    grande beijo

    ResponderExcluir
  2. Ária para contralto azul e tenor vacilante

    Procuro meu braço
    Aquele de outrora
    Que erguia sutilezas
    E tocava peles, livros
    Musgos, frios metais
    A lira incandescente

    Procuro meu braço
    Aquele da mão
    Que na xícara de então
    Mergulhava a madeleine
    Que ajeitava os óculos

    Procuro meu braço
    Memória de auroras
    Que sussurram árias
    Neste ouvido cansado

    abraço

    ResponderExcluir
  3. Meu querido, como sempre,as suas poesias lindas! Desculpe a minha ausência em sua pagina...fico feliz em poder estar aqui no seu espaço e poder desfrutar de poesias tão boas de se ler.
    Beijos no seu coração.

    ResponderExcluir
  4. Ah, se os objetos cingissem-me em abraços!!!
    Poeta que dá vida ao mundo, esse é você. Tudo fala, dança, sente, encanta.
    Beijos,

    ResponderExcluir
  5. " A minha xícara sobre a mesa
    silencia-se de lábio cortado.

    Imagina que a desprezo depois daquele dia
    em que alguém a levou à boca
    e a deixou cair. "

    (Um prato cheio para as formiguinhas)

    Bruxo, bruxo... a imaginação serve o espanto. Você é mesmo um poeta gigantesco!

    Beijo.

    Crisântemo*

    ResponderExcluir
  6. Muito bom! Costumo imaginar que os objetos que me rodeiam têm vida e sofro com a perda de vida de cada um: um caneca quebrada, óculos sem uso, televisão sem funcionar...

    ResponderExcluir

  7. Os objetos que nos faltam à falta de outros abraços.

    Lindo!

    ResponderExcluir