sexta-feira, 10 de agosto de 2012

cigano sem o seu cavalo

Não é comum um poeta ser feliz
se ele sabe tão claramente
que toda felicidade
é enfadonha.

Mas eu fui feliz e enfadonho enquanto sentia
teus cabelos entrando por minhas narinas
a fazer cócegas dentro do meu peito.

E os pássaros riam do meu olhar
e os peixes zombavam do meu andado.

Não é normal um poeta ser feliz
se ele compreende a natureza dos deuses

do triste fim da festa e depois aquele frio nas mãos
e depois aquela vontade de trancar-se no quarto
e morrer ouvindo blues.

Os teus cabelos neles havia uma colônia mágica
pois sempre rompia um vaso do meu coração
quando eu cheirava desesperado tua vida.

Diante dos meus olhos e ao alcance das minhas mãos
disponho de punhal, espada de samurai, revólver 38.

Mas seria patético uma punhalada no pescoço
ou um ventre aberto ou um tiro no meio da testa.

Morrer por tua causa somente de vinho.
Muito vinho, vinho, vinho, vinho, vinho.

O meu sangue tem a mesma cor
da minha camisa branca
agora manchada.

3 comentários:

  1. Descreveste bem essa eterna melancolia do poeta, suas companhias nas coisas, nos detalhes que lembram a vida que se foi, mas que se eterniza no poema: o próprio martírio.

    Beijo.

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  2. adoro teus poemas domingos, neles até a morte tem sua delícia! Um beijo.

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  3. Domingos, um dia (há tanto tempo) eu disse: "preciso da tristeza para enxergar". Talvez sim, talvez não, mas os poetas, são, sim, seres melancólicos.
    Beijo grande,

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