segunda-feira, 16 de julho de 2012

uma garrafa de água benta

A verdade é simples -
não tem vestes
nem faces

não há caminho
debaixo dos seus pés
nem mestres que lhe segurem a mão.

A verdade é mansa
de uma ternura louca -

se nos embriagamos
perdemos seus olhos

e se acordamos sérios
ela gargalha, ela desdenha.

A verdade é uma permanência
que enfraquece as escamas
e cria mofo nas asas
de uma serpente.

Um suspiro sem lembranças.
Uma memória vaga e ardente.

A verdade alimenta-se do tempo.
A verdade tem filhos com o tempo.

A verdade tem três filhos com o tempo.
Um perdeu-se no mundo.
O outro vive dentro
de um túmulo.

O último é dúbio
e tem os olhos
tristes.

A verdade é simples, meu filho,
tão simples que me causa espanto.

Mas não é dor o espanto
nem encanto o que ilude.

3 comentários:

  1. a religião certa, a da verdade

    mesmo não sendo universal...

    beijinho

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  2. A simplicidade é mesmo espantosa, assim como a verdade, assim como tudo que é permanente.

    Lindo como sempre.
    :)
    bj

    Rossana

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  3. Muitíssimo bom, meu caro! A verdade às vezes causa dor, que certamente é sucedida pela mansuetude!

    Muita paz!

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