quarta-feira, 25 de julho de 2012

o riso de Neruda

Juro que se eu fosse um jardineiro
plantaria uma roseira para Deus
e outra pra ti.

Como só escrevo versos,
então, são todos teus.

Deus não dá a mínima pros poemas.
Quando falo de Deus acredite apenas na imagem.

Deus por sinal é agora uma janela aberta
e ao mesmo tempo um barulho insuportável de motocicleta.

Juro que não farei mal a mim senão através das palavras.
Mas as palavras quando são cuidadas como cuido da minha sinusite
não fazem mal nem trazem desgosto para quem as planta no jardim.

Se eu fosse um jardineiro passava horas a fio
admirando o sol que bate no muro
e faz sombra pras formigas.

Se eu fosse um jardineiro não plantaria roseiras.
Escreveria versos com os pés dentro de um riacho.

Com os pés dentro de um riacho
seria outra história: seria eu
um pescador.

E nós sabemos que todo pescador
tem um laço íntimo com Deus.

Deus ama os peixes.
Mais que aos poetas.

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