terça-feira, 24 de julho de 2012

o êxodo dos microorganismos

Meu corpo não se defende dos sinais da velhice.
Meus olhos sabem que a visão momentânea é triste.

Penso que serei nada quando a morte bater no meu ombro.
Não direi coisa alguma nem ai nem ui creio que ficarei em silêncio.

Talvez uma tosse.

Os versos não serão os mesmos sem a presença do poeta.
Difícil acreditar que morrerei um dia depois de tantos versos.

Nada levarei nenhuma palavra.
A palavra é dos vivos.

Penso seriamente que a morte ao bater no meu ombro
ainda me dará uma chance para que eu fuja, fuja, fuja.

Para onde se meu quarto não é meu
e se meus objetos sonham com minha morte.

Minha xícara já me deu adeus.
Ganhei um novo par de botas.

As antigas apesar de loucas
mantêm uma seriedade de santa.

O poeta após escrever seus versos
não tem nenhum poder sobre eles,
dizem.

Eu tenho poder sobre eles.
Guardo-os em um lugar secreto.

E a morte sabe onde.
Mas ela é a minha melhor amiga.

Não estragará a surpresa.
A minha surpresa.

Um comentário:

  1. Dos diálogos com a morte... sei bem como é...

    Beijo, querido.

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