domingo, 1 de julho de 2012

Ganesh

Não me lembro da última vez
em que bebi o café da manhã

na varanda balançando os pés
e piscando o olho pras plantinhas

vejam só, até assobiando
e dando pulinhos -

meu deus,
que é isso?

A primeira andorinha
que pousar no parapeito
peço-lhe que me belisque -

decerto estou doente
ou sonhando.

Agora é na cozinha
que danço um bolero
agarrado à minha xícara.

Deus,
que é isso?

Nunca fui dado
a tanto festim
assim, sóbrio
e patético.

A primeira andorinha
que pousar no meu ombro
tentarei sufocá-la com um beijo.

Mas é difícil,
ah, deus tão difícil -

as andorinhas não colaboram
e não passam batom cereja no bico.

Diga-me, deus,
como beijar essas andorinhas
de bico ainda úmido do orvalho das calçadas?

Não me lembro da última vezem que cantei uma música
olhando as paredes.

Deus,
que é isso?

Devo estar mesmo doente
ou apaixonado por meus cabelos brancos.

4 comentários:

  1. Há dias de paz, simplesmente... uma folga da dor.

    Beijo.

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  2. Meu deus, nem sei se tenho pena das andorinhas!

    Continuas com a mão cheia de magia, és um poeta gigante.

    Outro beijo*

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  3. Não há nada que cale a voz do poeta.
    a poesia é água de lavar a alma ...

    Um grande abraço , meu camarada !

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  4. Que delícia voltar de viagem
    vir aqui e me deliciar com seus belos versos.
    Te espero la no meu cantinho...

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