domingo, 12 de fevereiro de 2012

ondas

O poeta é um tolo, notório e conhecido
desde o tempo em que nasciam batatinhas
esparramadas pelo chão, diziam meus inimigos.

Sempre me comportei como tal
mas a minha ira também assusta.

Eu assumo minha tolice
e a bestial cólera
que me prende
e sufoca.

Eu não apenas assumo como canto
assoprando flautas doces e clarins.

Agora mesmo racha-me a cabeça
um raio digno de um tolo
e furioso poeta.

Não há motivos aparentes
que o mundo saiba antes
dos versos suspensos.

Se tivesse na mão um objeto cortante
uma caneta bico de bronze

não demoraria o sangue
a sujar-me o bermudão.

O que tenho nas duas mãos são dedos.
Dedos espertos que tramam aventuras.

Cada gesto anterior à palavra e ao pensamento
os meus dez dedos parados sobre as teclas
já intuem, sabem, riem.

Eu sou um poeta tolo e colérico,
os meus dedos são eremitas

e a cada toque no teclado
uma estrela morre
e outra nasce.

Ah, que linda ilusão
escrever poema
com o peito
espinhoso
...

há de nascer uma flor
desta voz abafada.

Um comentário:

  1. Domingos, dedos eremitas! Que imagem...quanta criatividade na tua poesia, que vai me trazendo sempre de volta AQUI.
    Beijos,

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