O poeta é um tolo, notório e conhecido
desde o tempo em que nasciam batatinhas
esparramadas pelo chão, diziam meus inimigos.
Sempre me comportei como tal
mas a minha ira também assusta.
Eu assumo minha tolice
e a bestial cólera
que me prende
e sufoca.
Eu não apenas assumo como canto
assoprando flautas doces e clarins.
Agora mesmo racha-me a cabeça
um raio digno de um tolo
e furioso poeta.
Não há motivos aparentes
que o mundo saiba antes
dos versos suspensos.
Se tivesse na mão um objeto cortante
uma caneta bico de bronze
não demoraria o sangue
a sujar-me o bermudão.
O que tenho nas duas mãos são dedos.
Dedos espertos que tramam aventuras.
Cada gesto anterior à palavra e ao pensamento
os meus dez dedos parados sobre as teclas
já intuem, sabem, riem.
Eu sou um poeta tolo e colérico,
os meus dedos são eremitas
e a cada toque no teclado
uma estrela morre
e outra nasce.
Ah, que linda ilusão
escrever poema
com o peito
espinhoso
...
há de nascer uma flor
desta voz abafada.
Domingos, dedos eremitas! Que imagem...quanta criatividade na tua poesia, que vai me trazendo sempre de volta AQUI.
ResponderExcluirBeijos,