Antigamente,
há séculos,
quando meus lábios rachavam
eu descia ao jardim do prédio
colhia algumas pétalas
de certas flores
esmagava-as, pisava-as,
alcançando uma textura
de unguento.
Em seguida deixava sobre o parapeito da varanda
um tempão esse unguento até que um bem-te-vi
concluísse o ritual: era necessário que ungisse
três vezes no bico e debaixo das asas
o bálsamo.
Lembro-me que ao untar esse bagulho nos lábios
logo caíam as escamas e assustava-me
a jovialidade da minha boca.
Descia pra calçada
e perdia a conta
das meninas
que beijava
todas vindo da pracinha
algumas desiludidas
do seu príncipe.
Ainda guardo dentro de envelopes secretos
cartas amorosas beirando loucura
e línguas inteiras embrulhadas
com lindos lacinhos.
Envelopes secretos tem destino declarado por dentro.
ResponderExcluirBeijo, bruxo!
DOMINGOS, BELA METÁFORA SOBRE O TEMPO E SUA CAPACIDADE DE REVITALIZAR EMOÇÕES.
ResponderExcluirAh... você sabe, poeta dos dias...
ResponderExcluirvocê sabe o que não consigo expressar
quando diante me vejo
de tua poesia!
S=)
Beijinho com admiração hiperbólica!
e mesmo assim era preciso esperar três vezes...
ResponderExcluirAbraço
LauraAlberto