sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

indolência

Não sou eu que quero escrever.
São meus dedos sob um olhar cínico e doce.

Augusto dos Anjos
não teria essa simplória cumplicidade.

Senão da pena gasta
e da luz da vela.

Os dois dedos de alguns séculos atrás que beijam o pavio
não é a mesma coisa do que lançar contra a parede
esse teclado empoeirado.

Teclado sujo e gorduroso
do suor de alguns dedos sacanas.

Escrevo porque meus dedos mandam.
E eu que sou louco obedeço a todos eles.

Sem hesitar lá vou eu sujando pouco das unhas.
Que mesmo roídas mantêm uma haste de carne viva.

Não há engrandecimento nem a mim nem a quem lê.
São apenas teclas sujas e gordurosas
e alguns dedos metidos a besta.

O tesouro é o riso irônico do que foi escrito
e das novas manchas nos pulmões.

2 comentários:

  1. Considero esses dedos, benditos!

    Ótimo poema!

    Suzana/LILY

    ResponderExcluir
  2. Dos Anjos tinha um baú de reminiscências lancinadas pelo fogo, quem respira como ele há de expelir dragões pelos lábios calcinados de anunciações,



    abraço

    ResponderExcluir