A noite debaixo da escrivaninha
não relembra livros da estante
nem das dores do peito
sufocado.
A noite é irmã da escrivaninha
como sou irmão das sombras
de todas já vistas
naquela infância jurada
de assombrações.
Nunca tive medo da chuva -
apavoravam-me os trovões
e rasgavam-me a alma
os relâmpagos.
Depois de quebrar muitos dentes contra paredes.
De assistir a tantos travesseiros com insônia.
Compreendi que é a noite amiga
minha única amiga que me traz
doces e sorvetes
mesmo que seja
uma noite vazia.
E que apenas um par de botas
cumpra seu dever de zelar
pelo seu dono.
As meias dentro são lençóis
para o dia que há de nascer
e reconfortar cada dedo
e cada unha encravada.
Meu par de botas
é um bom amigo
e as meias
uma boa alma.
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