terça-feira, 10 de janeiro de 2012

antes que o sol me apavore

A noite debaixo da escrivaninha
não relembra livros da estante
nem das dores do peito
sufocado.

A noite é irmã da escrivaninha
como sou irmão das sombras
de todas já vistas

naquela infância jurada
de assombrações.

Nunca tive medo da chuva -
apavoravam-me os trovões
e rasgavam-me a alma
os relâmpagos.

Depois de quebrar muitos dentes contra paredes.
De assistir a tantos travesseiros com insônia.

Compreendi que é a noite amiga
minha única amiga que me traz
doces e sorvetes

mesmo que seja
uma noite vazia.

E que apenas um par de botas
cumpra seu dever de zelar
pelo seu dono.

As meias dentro são lençóis
para o dia que há de nascer

e reconfortar cada dedo
e cada unha encravada.

Meu par de botas
é um bom amigo

e as meias
uma boa alma.

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