terça-feira, 15 de novembro de 2011

folhas secas ao vento

A minha xícara perdeu o sorriso.
Era linda como antigamente -

as duas fissuras tão finas
em torno da circunferência.

Tremi de susto
ao vê-la hoje

com mil olhos
e dentes.

Minha xícara [é mais que posse -
é um amor entre pele
e porcelana]

deveria ser única
na minha boca

e eterna sob
meu olhar distraído.

Mas alguém a deixou cair -
cozinha, sala, varanda,
sei lá onde.

O que me dói,
exaspera-me a alma

é que alguém antes a beijou
mesmo contra sua vontade.

Ela silenciosa
de um silêncio triste.

E eu morto de desilusão
embora sempre soubesse:

o que mais fere
é o encanto.

4 comentários:

  1. Seus versos alimentam minha alma que vaga longínqua...

    Álly

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  2. Tua voz é ímpar... admiro demais!

    Beijinho, poeta dos dias!

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  3. E a poesia vale pelo que é - e só. Quem mais falaria da sua xícara como você? Adorei o teu espaço.

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  4. Uma invasão imperdoável, até mesmo covarde, já que ela não tinha como evitar, se defender.

    Muito ruim ver expostos os nossos afetos profundos, não, Domingos?

    Um beijo, bem-vindo ao meu blog. Vou acompanhar.

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