quarta-feira, 30 de novembro de 2011

não é solidão mas estou sozinho

Receito-me duas xícaras de café -
uma logo que amanhece o dia
e a última quando o sol

já quase morto [ou morno]
bate no fio de alta tensão
e atrai as andorinhas.

Ultimamente vigio-me
e aparto-me do vinho
e qualquer gênero
de fumaça.

Ando delicado em um território
que a mim pertence mas não conheço.

Sei que é forjado pelo fogo.
Fogo da lucidez e fogo da loucura.

Tenho flores para cheirar, mel para beber
e abelhas para ferroar meu rosto.

Quando se abre a porta
e revela-se outro paraíso,

digo-me sempre -
é bom ter cautela.

Duas xícaras de café parece algo bobo.
Mas se fossem duas xícaras de chá estaria doente.

Essas duas xícaras de café levam-me a sair do quarto.
Ouvir a cafeteira, visitar as plantinhas da varanda.

E é comum sentir na garganta um gosto diferente.
Não do café bebido mas da lembrança
do tempo em que o café
vinha acompanhado
de ópio

e giz
de cera.

12 comentários:

  1. Estou me medicando com café neste exato momento, mas já não sei se faz efeito...

    Um beijo, moço.

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  2. Sensação familiar.
    Abraço!

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  3. acaba que todos os territórios que nos pertencem nos são desconhecidos, hein!?

    Beijinho,Poeta dos dias!

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  4. Dos últimos textos que li, esse é o mais belo! Mistura de realismo com utopia, ironia, delicadeza e um certo bom humor. Adoro poemas que me conduzem ao cotidiano do autor, mesmo que seja só ficção.

    "Duas xícaras de café parece algo bobo.
    Mas se fossem duas xícaras de chá estaria doente."

    Adorei o trecho acima!

    Um abraço,

    Suzana/LILY

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  5. Domingos, duas xícaras de café não parece bobo...Uma nuvem, um cisco no olho, nada, nada é tolo sob o olhar de um verdadeiro poeta. Eu, especialmente, gostei desse poema, que, amando, tomo como meu.
    Beijos,

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  6. Domingos,

    a rotina se cura com seus próprios venenos: café é um deles.

    "Sei que é forjado pelo fogo.
    Fogo da lucidez e fogo da loucura."

    Uma maravilha atrás da outra!

    Abraços!

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  7. quando os territórios que tornamos nossos aquecem menos do que uma chávea de café. já os teus versos, querido amigo, têm temperatura altíssima.
    um forte abraço!

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  8. Pô incrivel que pareça eu já bebi desse seu café...e sei que é uma maravilha.
    Grande abraço amigo.

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  9. quando um tanto de nós se desprende do outro tanto...
    abraço, amigo domingos!

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  10. cautela nunca é demais.
    bjs.
    Agradeço sua visita.

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  11. a solidão, a nossa solidão é a melhor das nossas companhias

    abraço

    LauraAlberto

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  12. Meu olhar se expande de tamanho encanto... até me atrveria fazer um café para prosearmos mais um pouco.

    Beijos, poeta!!

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