quinta-feira, 17 de novembro de 2011

cansaço

Dia a dia alimentamos nossa morte.
Nós nos divertimos tanto
e aproxima-se o fim.

Uma boa morte é alimentada
desde o início da tenra idade

com guloseimas, balões coloridos,
barquinhos de papel, pipas
e bermudões surrados.

Amo a tolice humana e amo a vaidade
oculta e tão óbvia no clarão
dos nossos olhos.

Você que é tão carente
noutros momentos
vivaz e eloquente

não aceita um drink
ou um chazinho
de hortelã?

A cada prazer delicado e simples
é um preparativo para a boa morte
que se anuncia.

Você vive cego
ou é passageiro
esse andado
trôpego?

Depois de um dia de batalha
carregamos nos ombros
três ursos.

Um para o vizinho
que ainda dorme.

O segundo para
a nossa sombra
dentro das botas.

E o último é somente seu.
O mais carnívoro,

presas horríveis
e bafo de onça.

Quem já se viu -
um urso com bafo de onça.
Mas é simpática essa imagem.

Durma,
você está exausto
após um dia de doçuras.

Amanhã cedinho
acorde seus ursos.

Vire-se e pegue de volta
aquele oferecido ao vizinho.

Calce suas botas,
espante sua sombra
e traga para si o segundo.

Quanto ao último urso
[o mais louco e feroz]

deixe-o
bem guardado

na terceira gaveta da cômoda
onde estão o fósforo, a taça
e o seu conhaque.

8 comentários:

  1. Que poema tão íntimo, senti-me dentro da minha casa e vi um sangue escorpiniano pulsando forte aqui, eu sinto... Se o poeta não tem o sol em escorpião, tem qualquer outra infuência. No horizonte, a morte, os olhos esquecem de olhar, mas os passos caminham lentamente, às vezes esquecidos, até ela. Amei o poema, Domingos...
    Beijos,

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  2. você justifica tão bem esse cansaço, poeta dos dias!

    Beijinho de fã!

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  3. amar a vida e querer viver é respeitar a morte e saber morrer.
    abraço, poeta amigo!

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  4. Menos drinks e mais vida. Um abraço:)Yayá.

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  5. Intenso, lindo. Viver é assim.
    Bjos, Domingos!

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  6. O teu poema desinquietou-me, sinto que vivemos com a morte ao nosso lado, ela deita-se na nossa cama e os dias coloridos há muito que foram!!!

    Beijo, querido Poeta
    LauraAlberto

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  7. a morte é úm acto solitário, mas também a vida o é

    abraço
    LauraAlberto

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  8. Valeu poeta, eis mesmo singular...
    Abraço fraterno! do mano Deoclécio Tadeu

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