domingo, 23 de outubro de 2011

o náufrago

Quando a tempestade veio e derrubou-me
passei quase uma eternidade em alto mar
agarrado às minhas botas.

Os amigos que tive dos céus as gaivotas
desciam até minha boca oferecer peixes.

Os golfinhos fizeram um cerco
dia e noite ao meu lado
aos gracejos.

Os golfinhos foram tão importantes
para que eu não sucumbisse
à terrível solidão do mar.

Em certos momentos os golfinhos
e as gaivotas conversavam entre si
sobre a minha sorte
e penúria.

Não entendia muito bem o que diziam.
Era uma confusão, sei que festejavam
o milagre de não ter me afogado

mas logo se abatiam
pela minha morte
já visível dentro
dos meus olhos.

Os golfinhos para me distrair
purificavam a água do mar
nos seus pulmões
e me jogavam
no rosto.

Eu aproveitava a brincadeira
e conseguia beber uns goles.

Alguma porção havia de mágico nessa água
que vinha dos pulmões dos golfinhos:
dois minutos após o primeiro gole
olhava para o céu esperançoso
e sorrindo.

E o que dizer das adoráveis gaivotas
das mamães gaivotas que repartiam
o peixe dos seus bebês comigo.

Passei quase uma eternidade em alto mar.
Nenhum pescador me viu ninguém me salvou a alma.

Quando eu morri,
as gaivotas prometeram
nunca mais comer peixes

e os golfinhos choraram durante todo o tempo
em que as ondas arrastavam meu corpo
até a hora em que as minhas botas
largaram-se das minhas mãos.

2 comentários:

  1. deixe-me ir ao longo do poema, para descobrir que todos morremos, mas há sempre alguém que sente a nossa falta
    abraço
    LauraAlberto

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  2. que viagem!

    emocionou-me teu diário de bordo.

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