terça-feira, 6 de setembro de 2011

Pã enfeitiçado

Aprendi muito cedo
a tocar flauta doce.

Bastava assobiar para o vento
e abrir os dedos dos pés.

Era como se fosse
o som de flauta doce
a brincadeira do vento
com o deleite dos dedos.

As lagartixas do parque
juntamente com as cigarras
ficavam bobas e extasiadas.

O vento ouvia meus pensamentos
e tocava Bach e Villa-Lobos.

Era muito jovem minha alma.
Só depois (velhinho)
dei por mim:

não era o vento
nem eram os meus dedos
que faziam aquele som, era

a garrafa de vinho debaixo do sol
com suas luzes e seus reflexos.

E sempre era manhã,
e era dia, brilhava o sol

e meus cabelos
iam com o vento
de lá pra cá.

Descobri outro dia
que os meus cabelos
contra ou a favor do vento
também fazem um som legal.

Sobretudo quando
vão ficando fininhos
e brancos.

2 comentários:

  1. Uma verdade, um músico com certa idade sabe tirar o melhor som. Um abraço, Yayá.

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  2. a música é a expressão maior que sabe buscar os instrumentos certos em cada ocasião. na meninice, como na idade adulta, ou na velhice. somos, afinal, feitos de melodias e de cantos perfeitos.
    abraço, poeta de pã!

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