quarta-feira, 1 de junho de 2011

os vândalos de tênis nike vermelho

Disseram que eu estava vadiando
sem eira nem beira
nesses dias de ausência
e loucura

mas o que eu estava mesmo
era cuidando dos canteiros
da minha praça.

Ultimamente pombos enlouquecidos
deram a bicar os olhos das flores.

Tenho que ser paciente e negociar com eles
miolos de pão por ramalhetes.

Alguns gentis e solidários aceitam a oferta de bom grado
e prostram-se aos meus pés felizes com as migalhas.

Outros sanguinários preferem arrancar
com requinte de crueldade cada pétala
(que é da flor cada cílio) indiferentes
à minha tristeza.

Contra esses bárbaros não há outra alternativa
senão lançar mão do meu guarda-chuva
e acertá-los bem no peito.

6 comentários:

  1. Uma metáfora muito bem construída num poema que deixa diversos caminhos de interpretação ao leitor.

    L.B.

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  2. toda ira aos pombos sanguinários, toda a lira aos cílios das flores,


    abraço

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  3. A arte de negociar, não é para todos, quiçá a arte da fonética sim...?
    Barganhar pão e poesia, por um punhado de coisa qualquer, dá a medida do articulador.
    Os pombos de todas as praças do mundo inteiro que o digam!

    Adorei as metáforas, Domingos!

    Deixo-te beijos!

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  4. Lídia, a graça da poesia
    e todo esse caminho alheio
    ao tempo que se lê
    e ao tempo que floresce
    dentro da memória poética
    ...

    Abraço carinhoso.

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  5. isso é muito lindo, cara "toda ira aos pombos sanguinários, toda a lira aos cílios das flores"



    forte abraço,
    irmão Assis.

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  6. Canto da Boca,
    você está certa

    de fato, negociar
    é uma arte e quando
    passamos a trocar
    confidências com
    o som das palavras
    precisa-se de mais
    paciência (e leveza)
    ...

    Os pombos que o digam
    (ouço agora, eles dizem)


    Beijo carinhoso.

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