terça-feira, 7 de junho de 2011

epístola do corpo

Quando durmo sou um.
Quando acordo sou outro.

Depois de morto
serei quantos?

Não morderei o próprio punho
para constatar sangue nas veias.

A vida que me cerca
de fato é uma vida alheia
que se diz minha quando durmo
mas é de outro quando acordo.

A curiosidade em morder o punho
e beber meu sangue
é apenas um fulgor
de menino.

Afinal sempre ofereço a ela minha pele
enquanto sinto seu cheiro.

E não serei eu seu dono ou o seu deus
a rasgar céus e abrir mares.

Já lhe sou grato por ainda poder dormir
e ainda poder acordar
atento ao que passa
dentro de mim
e ao que foge
do outro.

4 comentários:

  1. Entre dormir e acordar há um universo que nos atravessa. Ótimo poema!

    Ps.: Gostei da nova foto, e ainda é maior para eu poder identificar melhor meu caval(h)eiro. =)

    ResponderExcluir
  2. Lara, esse universo quando nos atravessa nos revela tanto
    ...



    P.S.: dizem "quem vê cara não vê coração", pois bem, digo eu,
    eis minhas faces e vejam
    minhas aurículas!"
    (rs)



    Beijo carinhoso,
    senhorita.

    ResponderExcluir
  3. carta de endereço universal, o dístico inicial é pleno da contradição atávica do ser humano, que debalde se procura em muitos espelhos, mas qual a imagem, qual?

    abraço

    ResponderExcluir
  4. Assis, essa angústia
    aproxima a alma do poeta
    do Inevitável e também
    do Encanto
    ...

    forte abraço,
    irmão.

    ResponderExcluir