quinta-feira, 7 de abril de 2011

minúcias

Essa tartaruguinha de pano é uma comédia:
sempre que viro o pescoço
vejo-a de toquinha azul.

O ventilador chega-lhe às orelhas.
Voa seu cachecol.

Ultimamente o vento da área de serviço
anda tímido, sem atitude. A tartaruguinha
de pano agradece: não precisa então
segurar a porta.

O clímax da minha filosofia
é quando reflito profundamente:

"será que em todas as casas
junto às portas dos quartos
há um encosto confeccionado
a pano, linha, adornos,
recheado de areia?"

O meu encosto é uma tartaruguinha de pano.
Essa foi boa o meu encosto.

Claro que é o encosto da porta do meu quarto.
Mas bem que poderia ser o meu.

Ando molenga,
apático, lânguido.

Uma tartaruguinha de pano e cachecol
por companhia não seria desagradável.

O problema é que ela não pode tomar banho.
Ensopa-se de maneira tal a pesar mais que uma nádega de elefante.

Parece que ela ouviu.
Ou foi o ventilador que lhe assoprou aos ouvidos?

Só não lhe dou um beijo agora
porque ela vive empoeirada.
É gripe na certa.

10 comentários:

  1. nunca tive uma tartaruguinha dessas. tive uma de verdade, que não prestava: era frívola, desbocada e muito devagar. até na cama. sorte que um dia se apaixonou por um coelho e me largou pra ir atrás dele. sou um homem de fé, acredito piamente que ela haverá de alcançar o leporino e me esquecer para sempre. porque se voltar, tô frito: não sei dizer não a quelônios, ofídeos e paquidermes.

    hoje tenho uma lagartixa, a Bianca. boa pessoa, muito educada, prestativa, carinhosa e fiel. seria perfeita, não fosse sua interpretação rasa, ao pé da letra... do que seja dar o rabo. em um ano e pouco de relacionamento, já me deu doze. guardo-os no congelador, por precaução. vai que um dia me falte coisa melhor pra comer.

    abraço, poeta

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  2. hehehehehehe,

    pois, rapaz, eu espero sinceramente que um dia você conheça (não a minha)
    uma tartaruguinha de pano,
    o incrível é que ela além de impedir os fantasmas derrubarem a porta em noites de tempestades
    ainda nos consola com o seu espantoso silêncio
    ...

    forte abraço,
    poeta!

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  3. Maravilhosa a forma como fazes verdadeiras dissertações poéticas partindo de objectos e visões menos prováveis!
    Beijinho

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  4. é uma fábula sigilosa
    que dança aos meus olhos
    ...

    Sandra, querida poetisa,
    beijo carinhoso
    ...

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  5. cá entre nós: fabuloso!

    (aposto que se você gripar ela não sairá do seu pé)

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  6. [Cris, a porta tem um ciúme doido
    da tartaruguinha de pano
    por isso sequer arrisco
    aproximar-me (rsrs)]

    Obrigado, por seus crisântemos
    sobre meus versos
    ...

    Beijo carinhoso.

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  7. Não tenho uma dessas tartaruguinhas, mas já encomendei uma há tempos... parece que a moça se esqueceu da encomenda...ou a tartaruguinha preferiu correr para o mar...

    Beijinho de onda, Domingos!

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  8. se foi para o mar pode acabar
    no dorso de um golfinho mágico
    (rsrs)

    Beijo carinhoso,
    sensível poetisa.

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  9. tartaruguinha e encosto: para ela um caldo, para ele um trevo


    a
    braço

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  10. e que não se cruzem
    em noites loucas
    (rs)

    forte abraço,
    irmão Assis.

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