domingo, 13 de março de 2011

substância estranha

Quando um homem
de poucas mulheres
e muitos sonhos

acorda da sua sesta
os cotovelos postos
sobre a mesa

a xícara do café com leite
à boca e o olhar distante

lembrando dos mortos
da sua rua

é que já andam pelo mesmo caminho
seguindo a mesma estrada

a sua alma cansada
o seu corpo melindre

e perde-se o sentido da vida
e ganha-se nova cor o anseio

do que há por trás dos montes
se uma plantação de trigo
ou um pântano.

É de entristecer seus parentes
(passarinhos e objetos)

a infernal dúvida que reina
e se estende do quarto
à cozinha:

será agora enfim o último suspiro
do homem de tantos sonhos
e poucas mulheres?

E nada se ouve do seu olhar
senão os golpes mudos
da faca de cortar pão
contra o vento.

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