segunda-feira, 21 de março de 2011

espumas cristalinas

Quando aquela música inesquecível perde o encanto.
Quando o livro predileto de poesia é esquecido na estante.

Quando já não lavamos o banheiro nem as cuecas de madrugada.
Quando o teclado parece com o tapete sujo jogado na despensa.

Quando a escrivaninha é uma nuvem cinza.
Quando não nos interessa o que tem para o almoço.

Quando não fazemos um lanche durante a insônia.
Quando só malhamos para fustigar a alma indolente.

Quando a alma não reclama.
Quando o corpo não se regozija.

Quando a caspa queima.
Quando os dentes ficam mais amarelos.

Quando as botas emudecem
Quando quebro a xícara na parede.

Quando não molho as plantas da varanda.
Quando cuspo em quem passa lá embaixo.

Quando retorno ao quarto de cabeça abaixada.
Quando tropeço na luminária e esmurro o sofá.

Quando vejo os travesseiros suando frio.
Quando procuro e não acho meu chinelão antigo.

Quando ouço pouco e enxergo menos.
Quando não há palavras nas dobras da língua.

Quando a garganta inflamada é um inferno.
Quando os olhos estão secos e áridos.

Quando a tarde é um mormaço.
Quando o ventilador sussurra.

Quando sinto vontade de fazer uma loucura.
Quando não faço uma loucura.

Quando o celular desligo.
Quando vejo um inseto passeando pelo mouse.

Quando esmago o inseto com a cam.
Quando abro o zíper do bermudão e me espreguiço.

Quando cruzo as mãos segurando a nuca.
Quando meu olhar se perde fitando o teto.

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